Ao ser cobrado sobre o aumento vertiginoso no número de mortos, Bolsonaro respondeu: “E daí?”
O Ministro da Saúde, Nelson Teich, demorou mas acabou tendo que admitir, em entrevista coletiva, nesta terça-feira (28), o agravamento da situação por causa da Covid-19. Isso se deu com a notícia de que 474 pessoas tinham morrido em 24 horas, um número recorde, que elevou o numero total de mortos em todo o país para 5.017.
O ex-ministro Henrique Mandetta já alertava, antes de ser demitido por Jair Bolsonaro, que a pandemia estava no início e que a curva de casos estava em ascensão. Insatisfeito com essa análise, Bolsonaro fazia pressão para acelerar o afrouxamento da quarentena e mesmo para suspender qualquer medida de proteção da população.
O novo ministro tomou posse e logo na primeira entrevista coletiva levou um choque de realidade. Foi informado em plena coletiva do dia 23 de abril, que 407 pessoas tinham morrido em apenas 24 horas, Um aceleração recorde até então.
Procurando manter o “alinhamento” prometido com o presidente, ele tentou minimizar os dados, levantando a hipótese de que poderiam ser exames represados.
Todos os sinais estavam apontando para a piora da situação. Elevação absurda no número de sepultamentos e vários serviços de saúde dando sinais de colapso, como eram os casos de Manaus, Belém, Fortaleza e Rio de Janeiro.
Apesar de vários alertas, o ministro preferiu seguir preparando as estratégias de “saída da quarentena”.
Nos dois dias que se seguiram, o número de mortes em 24 horas ficou na faixa dos 350. A sociedade já cobrava medidas mais intensivas e abrangentes para conter a expansão acelerada da pandemia, mas Nelson Teich, junto com o novo secretário-executivo do Ministério, o general Eduardo Pazuello, insistiam em discutir como sair da quarentena.
Eis que a notícia desta terça-feira (28), de que 474 pessoas havia perdido a vida em 24 horas, obrigou Nelson Teich a admitir a piora a situação.
No mesmo dia, Bolsonaro faria ironia na porta do Palácio da Alvorada. Ao ser questionado sobre o número de mortos, ele disse que era “messias”, mas não podia “fazer milagres”. Informado de que o número total de mortos tinha chegado a 5.017, ele respondeu: “E daí?”
Na entrevista coletiva da terça-feira (28), o ministro da Saúde aceitou que o aumento de casos “constitui uma tendência”. Anteriormente, ele havia ponderado que seria preciso ver se os números expressam a atualização de casos anteriores ou se representavam um aumento de fato.
“A curva vem crescendo e há agravamento da situação. Isso continua restrito aos lugares que estão vivendo maiores dificuldades, como Manaus, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Entendendo que Brasil tem que ser tratado de forma diferente, mas nesses lugares com um quadro de piora vamos continuar acompanhando para ver como vai ser a evolução”, declarou Nelson Teich.
Na terça, Teich se reuniu com governadores da região norte. Na quarta será a vez dos governadores das regiões sul e nordeste. E na quinta, do sudeste e do centro-oeste. Ele afirmou que o ministério está “trabalhando para dar apoio” a locais mais afetados, como por meio da aquisição de respiradores, equipamentos de proteção individual (EPI) e recursos humanos.
O que todos esperam do ministro é que ele não fique só na constatação da piora do quadro e tome medidas mais concretas para ajudar o enfrentamento desta gravíssima emergência sanitária.