Bolsonaro voltou a dar faniquito com a imprensa e encerrou uma entrevista coletiva irritado com a pergunta de uma repórter na sexta-feira (22), que lhe questionou sobre suas críticas ao sistema eleitoral.
Bolsonaro interrompeu várias vezes, sem responder a pergunta. Ela não se intimidou e insistiu no assunto, quando ele rebateu com ataques.
Com um celular na mão, gravando a entrevista, a jornalista o questionou: “O sistema do jeito que está, o senhor diz que não é transparente, entrega a faixa presidencial caso perca a eleição?”.
Ele tergiversou e atacou a repórter. “Você está louca para que eu fale não, né? Tá louca. Manchete!”, escamoteou Bolsonaro. Ela insistiu: “O senhor falou várias vezes que o sistema não é transparente, que não confia e só vai entregar para um sistema limpo”.
O “mito” continuou saindo pela tangente sem responder a pergunta. “Você também não leu o inquérito, né? Que vergonha para vocês!”, disse. Ele se referia a um inquérito da Polícia Federal (PF), que ele vazou em 2021, onde aponta uma tentativa de ataque hacker contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O caso foi desmentido pela PF e pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), afirmando que o ataque não atingiu a eleição.
Ele insistiu em dizer que é uma “vergonha” ela não saber deste inquérito, mas a repórter também repete várias vezes que a pergunta dela não foi sobre isso.
“Nós temos muito tempo pela frente… Eu vou dar golpe em mim mesmo, é isso? Eu vou dar autogolpe?”, disse ele durante visita a um posto de gasolina em Brasília, para fazer propaganda eleitoral sobre redução de preço do combustível.
Bolsonaro também foi questionado por jornalistas sobre a defesa ao sistema eleitoral brasileiro feito pelas embaixadas dos Estados Unidos e do Reino Unido.
A embaixada dos EUA disse na nota que as eleições brasileiras são “modelo” para o mundo e a do Reino Unido reafirmou sua confiança no processo eleitoral brasileiro. Bolsonaro, no entanto, não respondeu.
Sobre isso, nova evasiva: “Tem embaixador americano no Brasil? Não. Então você não pode falar de embaixadas”.
Com se o fato de não haver ainda embaixador credenciado no país a embaixada e seus serviços deixem de existir. Uma ideia bem rala e grosseira.
Não havendo ainda um embaixador no Brasil, os EUA foram representados, na reunião com Bolsonaro, pelo encarregado de negócios Douglas Koneff. Até que seja indicado um novo representante por Washington, Koneff estará à frente do posto em Brasília.
A repórter não se deu por vencida e voltou a questionar o ocupante do Planalto.
Até que ele responde: “Acabou tua cota de entrevista aí”.
Antes do questionamento da repórter, ele insistiu na apuração paralela das eleições, num flagrante desrespeito à Constituição e às leis brasileiras. Declarou também que continua a negociar para que as sugestões das Forças Armadas sobre o sistema eleitoral sejam acatadas pelo TSE. O TSE já acolheu parte das sugestões das Forçar Armadas.
“Continua a negociação. Olha só, o que é natural? Se lá diz que não tem problema, porque não fala ‘FFA, traga seus técnicos para cá, vamos conversar com nossos técnicos’”, disse.
Desde as eleições de 2018, Bolsonaro fez vários ataques às urnas eletrônicas sem mostrar uma única prova do que diz. O TSE já desmentiu várias vezes com fatos que tal fraude não existe. Só existe nas fake news bolsonaristas interessados em tumultuar as eleições.
Na reunião com os embaixadores de outros países ele insistiu em repisar a fake enws das eleições de 2018 e citou o inquérito aberto pela Polícia Federal na época, que apurou uma invasão cibernética aos sistemas do TSE.
Em outra alegação sem provas, disse que dezenas de vídeos das eleições de 2018 mostram que o eleitor “ia votar em 17 do Bolsonaro e não conseguia votar. Ia apertar o 7 não conseguia. Aparecia o 13”, emendou em referência ao 13 de Lula.
REPERCUSSÃO
A fala de Bolsonaro aos embaixadores repercutiu muito mal para ele e o deixo mais isolado. Mais de 60 entidades profissionais, sindicais, de peritos e delegados da Polícia Federal rebateram em notas as alegações bolsonaristas.
As entidades reafirmaram a segurança das urnas eletrônicas e expressaram sua confiança no sistema eleitoral brasileiro.
Outras personalidades classificaram o evento como um “vexame”. É o caso do general Santos Cruz que afirmou: “vexame internacional jamais visto”.
“É o Presidente da República denegrindo o próprio país. O Brasil não merece nem pode aceitar tal insanidade”, declarou o general em seu perfil no Twitter .
“É um absurdo o presidente da República reunir os embaixadores para falar mal do próprio país”, observou, ainda, o militar.
Santos Cruz (Podemos) classificou a reunião com os diplomatas estrangeiros como uma “vergonha para o Brasil”.
A Intelis (União dos Profissionais de Inteligência de Estado da Abin), que representa os funcionários da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), soltou nota afirmando que “não há qualquer registro de fraude nas urnas eletrônicas desde a implantação do atual sistema”, em 1996.
Ainda por meio da nota, a Intelis esclareceu que “os profissionais de Inteligência de Estado” têm “prestado apoio técnico especializado à Justiça Eleitoral”.
Esses profissionais, segundo a nota pública, têm atuando no “fornecimento e implementação de sistemas e dispositivos criptográficos, que contribuem para a autenticidade, confidencialidade e inviolabilidade dos programas e dados das urnas utilizadas no país”.
A “criptografia de Estado”, segundo a Intelis, e os “sistemas de assinatura digital desenvolvidos e aperfeiçoados por nossos servidores” agem no sentido de proteger dos ataques o sistema eleitoral brasileiro.
“Fazem parte do ecossistema complexo de barreiras que tem resistido com sucesso às diversas tentativas de ataques executadas durante testes públicos de segurança da plataforma, como reconhece publicamente o Tribunal Superior Eleitoral”, afirmou a entidade por meio da nota.
Três entidades representativas dos delegados e peritos da Polícia Federal refutaram os ataques de Jair Bolsonaro contra as urnas eletrônicas e manifestaram “total confiança no sistema eleitoral brasileiro”.
Em nota, a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), a Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF) e a Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (FENADEPOL) afirmam que a PF já realizou diversas perícias e “nenhum indício de ilicitude foi comprovado”.
“Acatar a legislação eleitoral vigente e respeitar a Constituição, bem como as decisões democráticas é imprescindível a todo e qualquer representante eleito ou postulante a cargo eletivo”, pontuaram na nota.
Os comandantes das Forças Armadas foram convocados e não compareceram ao evento onde Bolsonaro atacou as instituições do país.
Esses fatos desmontaram a falácia de Bolsonaro contra as eleições e as urnas eletrônicas.
SOLIDARIEDADE
Bolsonaro também se negou a prestar solidariedade às vítimas da operação no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro, na véspera. Ele só lamentou a morte do cabo Bruno de Paula Costa, a quem chamou de “irmão paraquedista”.
Quando questionado sobre as outras vítimas, entre elas uma mulher que passava de carro na região e uma outra morte que ocorreu na sexta-feira, ele respondeu: “Você que se solidarize com essas pessoas, tá ok?”, disse a jornalistas. Outras 17 pessoas morreram na ação policial da quinta-feira (21).