Monique Medeiros, mãe do menino Henry Bordel, mudou a versão sobre a morte do filho de 4 anos e diz que chegou no quarto do menino e já o encontrou na cama com seu então companheiro, o vereador Dr. Jairinho, dizendo que o havia encontrado no chão
Monique diz que foi drogada pelo vereador na mesma madrugada em que o filho faleceu. A declaração consta em uma carta de 29 páginas escrita por ela dentro do Hospital Penitenciário em Bangu, onde está internada com 5% do pulmão comprometido pela Covid-19.
Ela relata que colocou Henry para dormir após ele acordar três vezes no dia 8 de março. Quando o casal cansou de assistir a uma série, por volta da 1h30, o vereador a convidou para irem deitar no quarto.
Ao chegar no cômodo, o Dr. Jairinho “ligou a televisão num canal qualquer, baixinho, ligou o ar condicionado, me deu dois medicamentos que estava acostumado a me dar, pois dizia que eu dormia melhor, mas eu não o vi tomando. Logo, eu adormeci”, conta.
“De madrugada, ele me acordou dizendo para eu ir até o quarto, que ele pegou o Henry no chão, o colocou na cama e que meu filho estava respirando mal. Fui correndo até o quarto, meu filho estava de barriga pra cima, descoberto, com a boca aberta, olhos olhando para o nada e pensei que tivesse desmaiado”, continua.
A nova versão contraria o primeiro depoimento dado por Monique em meados de março, quando ela havia dito que viu o menino caído no chão primeiro e chamou Jairinho que estaria dormindo.
Na carta, Monique acusa Jairinho de ser dominador e violento, e que se sentiu ameaçada pelo companheiro. Ela também narra uma rotina de agressões e crises de ciúme do vereador, que é apontado pela Polícia Civil do Rio como o responsável por espancar até a morte Henry Borel, em 8 de março.
“Eu tentava a todo custo me afastar e me desvincular dele, mas fui diversas vezes ameaçada e minha família também”, relata Monique em um dos trechos da carta.
Monique também afirma que Dr. Jairinho a dopava . “Comecei a notar que nas minhas taças de vinho, sempre havia um ‘pozinho’ branco no fundo (…) Um dia fui ao banheiro e quando voltei, peguei ele mascerando um comprimido dentro da minha taça”.
A educadora acusa o vereador de ter invadido a casa de sua família em Bangu, na Zona Oeste do Rio. “Lembro de ser acordada no meio da madrugada, sendo enforcada enquanto eu dormia na cama ao lado do meu filho… Quase sem ar, ele jogou telefone em cima de mim, perguntando, me xingando e me ofendendo […] No dia seguinte ele pediu desculpas, disse que me amava muito”.
Monique também detalha que Jairinho ligava ao menos 20 vezes por dia, colocou um localizador em seu celular, sempre pedia que ela mandasse fotos e teria até colocado pessoas para segui-la quando ia à academia. Alega que começou a ter crises de ansiedade e que ele começou a receitar ansiolítico e remédio para dormir.
A professora também admitiu que mentiu no depoimento à polícia e contou sua versão sobre os episódios em que o filho foi agredido por Jairinho e sobre o dia em que Henry foi assassinado.
“Preciso prestar novo depoimento, pois fui orientada a mentir sobre a noite da morte do meu filho. Fui treinada por dias para contar uma versão mentirosa por me convencerem de que eu não teria como pagar por um advogado de defesa e que eu deveria proteger o Jairinho, já que ele se diz inocente”, conta em outro trecho.
A defesa peça um novo depoimento de Monique no inquérito há mais de uma semana, mas o diretor do Departamento-Geral de Polícia da Capital (DGPC), delegado Antenor Lopes, indicou recentemente que já há elementos suficientes para concluir o relatório.
Monique, diagnosticada com covid-19, está internada desde o dia 19 de abril no Hospital Penal Hamilton Agostinho. Dr. Jairinho (sem partido) está no presídio Pedrolino Werling de Oliveira, no Complexo de Gericinó, em Bangu 8.