Investigação da PF mostrou que presentes foram levados aos EUA, em dezembro do ano passado, pouco antes do fim do mandato de Bolsonaro
O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre de Moraes, prorrogou, pela oitava vez, por mais 90 dias, o inquérito das milícias digitais, que apura a existência de grupos organizados que disseminam ideias golpistas nas redes digitais.
Está incluída nesse inquérito a investigação das joias sauditas.
Assim, a patranha das joias sauditas, que foi desvendada por reportagem do Estadão em março, vai continuar repercutindo e deixando cada vez mais enredado o ex-presidente da República.
Neste inquérito, Moraes incluiu a investigação sobre a venda de presentes dados por autoridades estrangeiras ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), incluindo as joias sauditas.
Também foi no âmbito deste inquérito que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, fechou acordo de colaboração premiada no início do mês.
CONTEÚDO DA COLABORAÇÃO
Ainda não se sabe ao certo os termos da colaboração de Cid. Mas ele deve falar não só da venda ilegal dos presentes.
E também sobre qualquer envolvimento de Bolsonaro em atos golpistas e sobre, ainda, a fraude no cartão de vacinação do ex-presidente e da filha dele.
Foi no âmbito desta última apuração que Cid acabou preso, em maio, e solto só depois de confirmar o acordo para a colaboração.
MANDADOS DE BUSCA E APREENSÃO
No caso das investigações sobre venda de presentes, em agosto, a PF (Polícia Federal) cumpriu mandados de busca e apreensão contra o pai do “ex-faz-tudo”, general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid; o advogado de Bolsonaro Frederick Wassef; e o segundo-tenente Osmar Crivelatti, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
Investigadores da PF identificaram o rosto do general no reflexo da fotografia usada para negociar, nos Estados Unidos, esculturas recebidas como presente oficial.
A investigação mostrou que presentes foram levados aos EUA, em dezembro do ano passado, pouco antes do fim do mandato de Bolsonaro.
PRESENTES DE ALTO VALOR
Dentre as joias, estava um conjunto com 2 esculturas de barco e palmeira. Esses presentes foram recebidos em novembro de 2021 na viagem de Bolsonaro ao Bahrein, e 1 dos conjuntos de joias da Chopard recebidos por Bolsonaro como presente oficial da Arábia Saudita, composto por caneta, anel, abotoadeira, rosário árabe e relógio.
Esses presentes de altíssimo valor, por lei, deveriam ter sido incorporados ao acervo da Presidência da República. Todavia, não foi isto que foi feito. Foram incorporados, ilegalmente, ao patrimônio pessoal de Bolsonaro. E alguns foram vendidos ilegalmente.
Segundo a PF, o dinheiro apurado com a venda desses objetos, que não eram do ex-presidente, foi repassado ao ex-chefe do Executivo.
PRESENTES RECEBIDOS
A investigação envolve os presentes de alto valor que Bolsonaro recebeu quando ainda era presidente da República (2019-2022).
O kit da Chopard foi recebido em outubro de 2021, durante viagem do então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, à Arábia Saudita, o governo Bolsonaro recebeu kit com itens da marca suíça Chopard que incluía: caneta, anel, par de abotoaduras, rosário islâmico (“masbaha”) e relógio.
Esse kit teria sido trazido pelo próprio ministro na bagagem pessoal sem ser declarado e permanecido guardado no cofre do prédio do ministério por mais de 1 ano, até ser registrado e enviado ao acervo da Presidência da República.
RELÓGIO PATEK PHILIPPE
O relógio da marca suíça Patek Philippe foi recebido possivelmente, segundo a PF, durante visita oficial de Bolsonaro ao Bahrein, pequeno país no Golfo Pérsico, em novembro de 2021.
Pela investigação, esse item foi negociado com o Rolex que fazia parte de um dos presentes dados pelo governo da Arábia Saudita.
Segundo a PF, o relógio Patek Philippe foi extraviado do acervo oficial “diretamente para a posse do ex-presidente Jair Bolsonaro”.
ESCULTURAS FOLHEADAS A OURO
Segundo a PF, Bolsonaro recebeu, em novembro de 2021, escultura de barco folheada a ouro em seminário com empresários árabes e brasileiros no Bahrein.
A outra escultura, também folheada a ouro, mas em formato de palmeira, não teve a origem identificada.
As duas peças recebidas por Bolsonaro como presentes oficiais também foram levadas no voo oficial para Orlando (EUA), antes de o ex-presidente concluir o mandato.
ROLEX E JOIAS
Em viagem oficial à Arábia Saudita, em outubro de 2019, Bolsonaro recebeu kit com: anel, abotoaduras, rosário islâmico (“masbaha”) e relógio da marca Rolex, de ouro branco com diamantes.
Foi presente pessoal do rei da Arábia Saudita, Salman bin Abdulaziz Al Saud, ao ex-presidente.
Esse Rolex foi, segundo a PF, negociado por US$ 68 mil (R$ 346.983,60 na cotação da época).
A PF não estimou o valor dos outros itens em seu relatório.
MAIS JOIAS
Em 11 de agosto, investigação paralela sobre outras joias — também dadas pela Arábia Saudita — que corria na Justiça Federal paulista, foi enviada ao STF a pedido do MPF (Ministério Público Federal) de São Paulo.
Essa investigação foi aberta em maio deste ano, após a apreensão de conjunto formado por colar, anel, relógio e brincos de diamantes pela Receita Federal no aeroporto internacional de Guarulhos.
As joias seriam presentes para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Os itens foram encontrados na mochila de assessor do então ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque