O Ministério Público Federal (MPF) pediu a condenação de Jair Bolsonaro e sua ex-assessora fantasma, Walderice Santos da Conceição, conhecida como “Wal do Açaí”, por improbidade administrativa e o ressarcimento pelo desvio de dinheiro.
Quando era deputado federal, Jair Bolsonaro indicou a Walderice Conceição para um cargo em seu gabinete sabendo que ela não iria trabalhar.
Walderice trabalhava, na verdade, em uma loja de açaí na mesma rua da casa de veraneio de Bolsonaro e também prestava serviços particulares para o então deputado. Ela esteve lotada no gabinete entre 2003 e 2018.
Para o MPF, “as condutas dos requeridos e, em especial, a do ex-deputado federal e atual presidente da República Jair Bolsonaro, desvirtuaram-se demasiadamente do que se espera de um agente público”.
“No exercício de mandato parlamentar, não só traiu a confiança de seus eleitores, como violou o decoro parlamentar, ao desviar verbas públicas destinadas a remunerar o pessoal de apoio ao seu gabinete e à atividade parlamentar”, continuou.
A Folha de S.Paulo foi à loja de açaí duas vezes, em janeiro e agosto de 2018, enquanto ela ainda era assessora parlamentar, e Walderice estava lá trabalhando. Isso contradiz a argumentação de Bolsonaro de que ela estava na loja somente quando estava de férias.
A investigação apurou que Jair Bolsonaro “atestou falsamente” a frequência de Walderice como assessora.
O marido de Walderice, Edenilson Garcia, também prestava serviços para Jair Bolsonaro, o que torna evidente que ele usava o dinheiro da Câmara dos Deputados para pagar por serviços prestados à sua família.
Além disso, Wal, como era chamada, sacava em espécie entre 83% e 95% de seu salário. Esse é um indício de que ela estava envolvida no esquema de “rachadinha” no gabinete de Jair Bolsonaro, no qual os assessores eram obrigados a devolver parte do salário ao deputado.
O MPF enviou a ação para a Justiça e o caso foi transferido para a 6ª Vara Federal do Distrito Federal. A Vara intimou Jair Bolsonaro e Walderice para que respondam às acusações dentro de 30 dias.
DESVIO DE DINHEIRO
O depoimento de outros ex-assessores e amigos de Jair Bolsonaro confirmam que ele desviava dinheiro da Câmara através de assessores fantasmas e do esquema da “rachadinha”.
A Veja publicou áudios do amigo de Jair Bolsonaro, Waldir Ferraz, contando como era organizado o esquema criminoso operado pela ex-mulher, Ana Cristina Siqueira Valle.
“A jogada dela [Cristina Valle] era a seguinte. Ela chegava para você: ‘quer ganhar um dinheiro? Te dou R$ 1 mil por mês. Me empresta seu documento aí’. Pegava a carteira do cara que estava entrando na Câmara, recebia R$ 8 mil, R$ 10 mil, e dava R$ 1 mil para o cara”, falou Waldir.
A ex-cunhada de Jair Bolsonaro, Andrea Siqueira Valle, foi gravada admitindo que sabia do esquema criminoso e dizendo que seu irmão, André Siqueira Valle, que era assessor de Bolsonaro, foi demitido porque não devolvia dinheiro suficiente.
“O André deu muito problema porque ele nunca devolveu o dinheiro certo que tinha que ser devolvido, entendeu? Tinha que devolver R$ 6 mil, ele devolvia R$ 2 mil, R$ 3 mil. Foi um tempão assim, até que o Jair pegou e falou: ‘Chega. Pode tirar ele porque ele nunca me devolve o dinheiro certo’”.
Jair Bolsonaro organizou o mesmo esquema no gabinete de seus filhos Flávio, Eduardo e Carlos. Ele designou sua então esposa, Ana Cristina Siqueira Valle, como “coordenadora” do esquema. Depois, a demitiu e designou Fabrício Queiroz para o centro da organização.