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Primeiro-ministro vai a Washington e deixa Israel em meio a pandemia descontrolada para se juntar a ministros do Exterior dos Emirados e do Bahrein na tentativa de salvar Trump de naufrágio nas urnas
O sábado (12) foi marcado por mais um protesto contra a permanência de Bibi Netanyahu à frente do governo de Israel. Milhares de israelenses ocuparam ruas e cruzamentos de estradas em atos diante da residência oficial do primeiro-ministro ea em mais de 300 outras localidades por todo o país.
A exigência de sua renúncia pela 12ª semana consecutiva, foi a despedida popular – um rechaço a seu comprovado envolvimento em corrupção e fracasso econômico e diante do descontrole no enfrentamento à pandemia – no momento em que partiu para se encontrar com Trump e mais dois representantes de reizinhos do Golfo Árabe em Washington.
Um dia antes da mais recente mobilização nacional, o gabinete ministerial aprovou o segundo lockdown em todo o país a durar três semanas e a começar na sexta-feira, dia 18, exatamente o dia em que tem início o Ano Novo judaico e começam as celebrações correspondentes (Rosh Hashaná) seguido do Yom Kipur, Dia da Expiação que acontece da noite do dia 27 e até o anoitecer do dia 28. É o único país do mundo a baixar lockdown (fechamento radical das atividades) pela segunda vez.
O que se prevê é que os judeus ultra-ortodoxos não vão respeitar o lockdown nos dias mais importantes do calendário religioso judaico.
Aliás para se ter uma ideia da gravidade a que chegou a situação em Israel, no dia 14 de setembro a taxa de infectados pelo vírus foi de mais de 6 vezes o número de pessoas que contraíram o Covid-19 no Brasil, em proporção com a população de cada país.
Quando, após um rígido primeiro lockdown, o número de infecções em Israel caiu, Netanyahu, para fazer boa figura, chamou os israelenses a voltarem às escolas, praias, bares e lojas, sem nenhuma precaução à altura. “Vamos todos tomar um café, beber uma cerveja, nos divertir”, disse então Netanyahu.
O resultado foi a maior das recidivas vistas desde o início da pandemia.
Na manifestação desta semana, além dos jovens e veteranos fartos do governo inoperante de Netanyahu (tanto no que tange aos serviços públicos, como na estagnação econômica, como na incapacidade de negociar acordos de pacificação com os palestinos) e do atoleiro de corrupção em que afundou (é julgado por fraude, suborno e quebra de confiança).
É por isso que, neste sábado, além dos comerciantes e pequenos industriais que têm protestado com a falta de apoio a seus negócios durante a pandemia que afastou os consumidores, também foram vistos os donos de restaurantes, de academias de ginástica e agentes de turismo.
Cercado em sua própria casa, em meio a um repúdio crescente, revolveu tentar, a um só tempo, escapar de seu fiasco na condução dos destinos de Israel e ainda fazer uma fezinha a favor daquele que, junto com ele, montou um plano para ajudar a ele e seu grupo na usurpação de territórios palestinos. Bibi foi a Washington para uma vergonhosa cerimônia de uma suposta – por que impossível – paz na região.
Netanyahu se encontra com representantes de dois mini-reinados passando por cima dos direitos mundialmente reconhecidos do povo palestino, construtor de uma das mais antigas civilizações da face da terra, berço das três religiões monoteístas.
Ao se dirigir ao avião que o levaria aos Estados Unidos, chamou a farsa da qual seria parte de “missão histórica”; uma “paz em troca de paz”, para disfarçar a negação da proposta árabe de “paz por terra” (paz Israel – Palestina reconhecida por todo o mundo, a começar pelos países árabes, em troca da retirada de suas tropas, agentes e divisões policiais dos terrítórios árabes ocupados desde 1967).
O vexame não poderia ser maior: se o enviado de Israel à Casa Branca para a tal cerimônia foi o principal mandatário do país; pelo lado dos Emirados e do Bahrain, ao invés dos mandatários principais quem desembarca em Washington são dos ministros do Exterior dos dois paisécos.
Além disso, poucas horas antes da cerimônia, o procurador-geral de Israel, Avichai Mandelblit fez chegar a Netanyahu a informação de que o documento de “normalização de relações” que pretende assinar carece de valor legal pois, pelas leis israelenses teria que passar pelo parlamento israelense.
Até para participar da lamentável pantomina, os dois ministros do Golfo tiveram que afirmar que o documento barra a pretendida anexação de território palestino e não abre mão da Solução dos Dois Estados (Israel e Palestina com sua territorialidade acordada e convivendo lado a lado e em paz).
Evidente que esta não é a compreensão de Netanyahu, que já verbalizou que a anexação foi apenas adiada e, portanto, obviamente não quer paz alguma com os palestinos, mas simplesmente a sua dispersão e perda de direitos.
Acontece que tal coisa nem eles, nem os israelenses ou judeus de bem ou quaisquer cidadãos de bem em todo o mundo estão dispostos a aceitar e nem dezenas de cerimônias como a que armaram agora na Casa Branca, seja qual for sua repercussão midiática de momento, conseguirá, portanto, tornar justo o que é injusto ou fazer o mundo aceitar o prolongamento indefinido da bestialidade da ocupação e da usurpação dos palestinos.
Está certo o presidente palestino, Mahmud Abbas, que alertou: “A região só terá paz e estabilidade com o fim da ocupação”.