A dança das cadeiras no Ministério da Saúde continua. A novidade é que o médico declaradamente discípulo do já finado Olavo de Carvalho, Hélio Angotti Neto, deixou o comando da Secretária de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos (SGTIE) do Ministério da Saúde para assumir o cargo que era ocupado pela médica Mayra Pinheiro, conhecida como “capitã cloroquina”.
Angotti Neto é o responsável pela nota técnica, publicada pelo Ministério da Saúde, em janeiro, que colocou a cloroquina como eficaz contra a Covid-19, e a vacina não.
Na nota, o secretário apresentou uma tabela colocando a hidroxicloroquina – medicamento que já teve sua ineficácia comprovada contra a covid-19, sendo contraindicada, inclusive, pela OMS (Organização Mundial da Saúde) – como eficiente contra a doença e em oposição as vacinas.
A nota cita “treze estudos controlados e randomizados com direções de efeito favoráveis à hidroxicloroquina, com efeito médio de redução de risco relativo de 26% nas hospitalizações, altamente promissor para o uso discricionário e prosseguimento dos estudos”.
Para a falta de efetividade das vacinas, a referência citada são “dezoito ensaios não finalizados, dos quais, oito ainda em fase de recrutamento, nove ainda não finalizaram o seguimento e um finalizado, mas ainda em fase insuficiente para a avaliação de segurança, mas recomendado para ‘combate à pandemia'”.
Mayra Pinheiro, apelidada de capitã cloroquina por defender o uso do medicamento destinado ao tratamento da malária como solução milagrosa contra a Covid-19, foi exonerada na segunda-feira (14), da secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES). A bolsonarista que já anunciou que será candidata a deputada federal nas eleições de outubro pelo Ceará, foi realocada e esquentará uma cadeira na subsecretária da Perícia Médica Federal da Secretaria de Previdência, ligada ao Ministério do Trabalho e Previdência.
Com a saída de Angotti Neto do cargo, quem assume a Secretária de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos é a diretora do Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos, Sandra de Castro Barros. As mudanças foram publicadas na edição desta quarta-feira, do Diário Oficial da União (DOU).
Além da troca da Capitã Cloroquina pelo Olavista, a pasta ainda fez uma terceira troca em cargos estratégicos. A diretora Departamento de Atenção Especializada e Temática, Maíra Batista Botelho, foi promovida a chefe da Secretaria de Atenção Especializada à Saúde. Ela substitui Sérgio Okane, que foi exonerado.
Amiga de Queiroga também ganha cargo
O nome de Botelho gerou desconforto no Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde), no Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais) e entre os presidentes de grandes hospitais, como o Sírio-Libanês e Albert Einstein.
Segundo descobriu o Congresso em Foco, o motivo da aversão ao nome de Maíra para o lugar de Okane passaria pelo perfil da profissional, considerada com menos experiência que seu antecessor, até a sua grande amizade e proximidade com o Ministro Queiroga, o que estaria provocando desconforto no ministério.
“Muitos hospitais de excelência parceiros do Ministério sabem desse movimento e são contra a nomeação. Além da ausência de capacidade técnica, a Maíra também já cancelou recursos do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi) para essas instituições”, contou ao Congresso em Foco, uma fonte do Ministério da Saúde, que pediu para não ter seu nome publicado.