“Fritura é coisa de gente covarde, desqualificada e que não sabe administrar a política e o relacionamento humano”. “A ‘fritura’ é escória do comportamento político”, disse.
O general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República, classificou na terça-feira (26) o guru de Bolsonaro, Olavo de Carvalho, como “um vigarista profissional”.
Em depoimento à CPI das Fake News, o militar repudiou comentários publicados por Olavo em redes sociais sobre a atuação de oficiais do Exército no governo de Bolsonaro. Em uma das publicações, em maio passado, Olavo de Carvalho chamou Santos Cruz de “politiqueiro e fofoqueiro de merda”.
“A pessoa fala que é escritor e filósofo, dá sugestões na área de educação e parte para um palavreado que não dá para repetir aqui. Quando eu era criança, se você falasse palavrão, passava pimenta na boca. Nunca li e não pretendo ler a obra dele. Acho que ele não tem padrão nem para se expressar. Pode ser que tenha até algumas ideias boas para o público dele em termos políticos. Mas o comportamento é um comportamento de vigarista. É um vigarista profissional que conseguiu influência em cima de algumas personalidades”, afirmou o militar.
Apenas o deputado Marco Feliciano (Podemos-SP) defendeu Olavo de Carvalho na audiência.
Questionado sobre os ataques que sofreu dos filhos de Bolsonaro, Santos Cruz evitou falar diretamente deles. “Eu não vou falar de filho do presidente da República, nem como ministro e nem como cidadão. Eu tenho meu conceito sobre cada um deles. Tenho meu conceito sobre o próprio presidente. Mas acho completamente deselegante e, falta de educação, o ataque pessoal. Então, não vou fazer isso”, afirmou.
O general declarou que o processo de sua demissão da Secretaria de Governo não deixou “ferida nenhuma”, mas criticou a forma como se deu.
“Troca de ministro ocorre em qualquer governo. É a coisa mais simples do mundo trocar um ministro. É só ter coragem moral. Chama o ministro e fala: ‘Não dá para eu segurar por causa da pressão que tenho aqui’. Não tem problema nenhum. Não tem trauma nenhum. Agora, quando falta ética e começa uma coisa de baixíssimo padrão que se chama ‘fritura’, isso é coisa de gente covarde, desqualificada e que não sabe administrar a política e o relacionamento humano. Esse é que é o xis da questão. A ‘fritura’ é escória do comportamento político”.
Durante a audiência pública, o militar tentou caracterizar a atuação das milícias digitais. Segundo ele, são grupos que adotam “comportamento de seita”, não questionam as orientações do líder e manipulam o debate de temas públicos para manter “um estado de conflito permanente”.
“’Eu sigo um líder’, e o líder é incontestável. Quando o líder fala, aquilo é uma coisa divina e todo mundo vai atrás e defende. Se você falar alguma coisa contra, você é expulso do grupo e é inimigo. Por quê? Porque o raciocínio é binário. Ele é amigo ou inimigo. Não preciso ser totalmente contra você para ser seu inimigo. Se eu fizer qualquer coisa contra, já sou inimigo. Qualquer coisa, é traidor. Quando a coisa é binária, é muito fácil organizar grupos extremistas de qualquer natureza”, disse Santos Cruz.
Para o ex-ministro, a atuação de grupos extremistas nas redes sociais se assemelha a “gangues de rua”, que agem contra os adversários com “estardalhaço e ataques”. De acordo com Santos Cruz, as condutas ilegais devem ser reprimidas pela Justiça. “Há comportamentos semelhantes a gangues de rua: xingamentos, condutas marginais”.
“É a tentativa de humilhação, de intimidação. Temos que separar o que é liberdade de expressão. A liberdade de expressão não significa que você pode xingar indiscriminadamente, humilhar, intimidar, destruir reputações. A liberdade de expressão com toda essa tecnologia disponível não eliminou o Código Penal. Tem condutas que podem ser criminosas? Tem, sem dúvida nenhuma. A calúnia, a difamação e a injúria continuam no Código Penal”, apontou.
A CPI das Fake News aprovou um requerimento para ouvir os servidores Tercio Arnaud Tomaz, José Matheus Salles Gomes e Mateus Matos Diniz, assessores da Presidência da República. “Eles vieram das redes sociais, das ruas, trabalharam na campanha do presidente Jair Bolsonaro, que trouxe esses três elementos para dentro do Palácio do Planalto. Eles atuam atacando, humilhando as pessoas, promovendo uma série de ataques covardes”, disse o deputado Alexandre Frota.
Santos Cruz confirmou que os três servidores trabalham no gabinete de Jair Bolsonaro. Mas disse não saber se eles integram ou se de fato existe a suposta central de boatos. “Seria leviandade falar uma coisa sem nenhum amparo comprobatório. Seria leviandade dar o nome de uma pessoa. Esse é o trabalho da comissão: chegar lá. O que posso é mostrar o que aconteceu comigo. Existem convergências: uma pessoa puxa e outras vão atrás. Tem alguém que é o estimulador, que monta a hashtag e dá a ideia inicial. Aí, o restante segue”, denunciou.
Para Santos Cruz, a existência de uma central de boatos seria “perfeitamente identificável” pela CPI das Fake News. Ele sugeriu que a comissão de inquérito busque o apoio de empresas especializadas em rastrear a origem e a disseminação das notícias falsas.
“Mas tem que ver a independência dessa empresa quando é paga por um órgão governamental qualquer. Tem que ser absolutamente independente. A comissão tem que saber o que encomendar. Pegar os dez perfis mais envolvidos em fake news em cada tema e solicitar que seja feita uma análise daquilo. Existem programas que fazem esse tipo de análise e vão pegar todas as conexões, inclusive perfis falsos”, afirmou.
“Não existe perfil falso que não seja detectável. Vai montando as conexões e as redes e vai aparecer direitinho onde começa e onde prossegue. Por isso que não falo o nome de ninguém. Tem que ser utilizada a tecnologia e, a partir da detecção, tem a ação policial. O final do trabalho técnico dá origem às ações legais”, observou o general.
Fonte: Agência Senado