Uma operação comandada pelo Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em conjunto com a Polícia Federal PF), Polícia Rodoviária Federal (PRF), Força Nacional (FN), o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e a Fundação Nacional do Índio (Funai), reduziu em mais de 10 vezes os alertas de garimpo ilegal na região do Tapajós (PA).
Deflagrada em agosto de 2023 para conter a poluição do Tapajós, os alertas de garimpo ilegal recuaram de 212 para 20, uma queda de 90,5% no intervalo de uma semana antes e uma semana após o início dos trabalhos.
A Operação Xapiri-Tapajós, maior realizada já realizada na região, entrou para o décimo dia e promoveu uma varredura dos afluentes do rio nos municípios paraenses de Itaituba, Jacareacanga e Novo Progresso. As ações envolveram um número recorde de aeronaves, sendo cinco helicópteros do Ibama e quatro do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em ação paralela.
Iniciada no último dia 10 de agosto a operação coincidiu com o Dia do Fogo, em referência a ação criminosa de infratores ocorrida em 2019, com uma grande queimada simultânea –planejada e executada em conjunto em Novo Progresso. O ato criminoso produziu grandes focos de incêndio na Floresta Amazônica.
Desde essa data, os fiscais e agentes das forças de segurança percorrem unidades de conservação no Pará, no entorno das estradas BR-163 e 230 para combater o desmatamento e o garimpo ilegal. As ações estão concentradas na Floresta Nacional do Amana, mas abarcam outras unidades ao redor.
A operação também busca impedir que a lama decorrente dos garimpos ilegais avance pelo rio Tapajós, como ocorreu em 2021. Na época, a pluma de sedimentos resultante da queimada chegou a Alter do Chão (PA).
Em 2022, peritos da Polícia Federal produziram um laudo pericial que mostrou a contaminação das águas do Tapajós. O líquido apresentou uma coloração barrenta atípica do rio, resultado da intensificação do garimpo ilegal e do desmatamento, e do uso do mercúrio na exploração do ouro.
As imagens das águas turvas e cheias de sedimento na região, conhecida como Caribe Amazônico justamente por suas águas cristalinas, se espalharam pelo noticiário, o que levou a PF instaurar um inquérito para investigar os motivos da alteração.
A “pluma de sedimentos” que turvou as águas teve origem ainda no estado do Mato Grosso no final de outubro e início de novembro de 2021, atingindo os rios Juruena e São Manuel, que deságuam no Tapajós, para a prática da monocultura, causando o desmatamento.
“O desmatamento que ocorre nas margens dos rios citados favorece a lixiviação de material arenoso, argiloso e siltoso. Esses elementos são carreados até os corpos hídricos onde os sedimentos mais finos costumam ficar em suspensão por mais tempo percorrendo longas distâncias”, detalhou o laudo da PF.
Segundo investigação da Polícia Federal, os garimpeiros ao redor da Bacia do Tapajós já despejaram cerca de 7 milhões de toneladas de rejeitos contaminados nas águas dos rios até o ano passado.
Um levantamento da Infoamazonia e da Earthrise Media mostrou que a atividade garimpeira cresceu 70% nos últimos cinco anos (pesquisa divulgada em 2022) na porção mais impactada da bacia, entre a Serra do Cachimbo, no Mato Grosso, e o rio Jamanxim, no sudoeste do Pará.
A operação recebeu o nome Xapiri em referência ao seu significado: são guardiões invisíveis das florestas, espíritos nos quais os ancestrais animais dos povos Yanomami se transformaram. Eles são evocados nos rituais xamânicos para refrescar a terra, curar o corpo e afastar as epidemias. Sua aparição é cintilante e, seus cantos, ensurdecedores.
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