Para senadores, o deputado negacionista Osmar Terra e o assessor racista Filipe Martins integrariam “gabinete paralelo” montado pelo presidente da República para disseminação da pandemia do novo coronavírus
A CPI da Covid-19 no Senado agenda para a próxima semana os depoimentos do ex-ministro da Cidadania e deputado bolsonarista-negacionista Osmar Terra (MDB-RS) e do assessor Internacional da Presidência da República, Filipe Martins.
De acordo com senadores que pediram as oitivas, os dois são suspeitos de integrar o chamado “gabinete paralelo” ou “gabinete da sombra”, grupo extraoficial que auxilia Bolsonaro a propagar a Covid-19.
O depoimento de Terra está previsto para terça-feira (22) e o de Martins, para quinta-feira (24).
O deputado propalava aos quatro cantos que a pandemia ia matar menos que a pandemia de H1N1; que ia passar rápido. Caiu em total descrédito. Ninguém o leva a sério. Ou melhor, apenas os negacionistas e Bolsonaro ainda o escutam.
Martins, é o assessor racista de Bolsonaro, que em audiência pública no Senado, em que acompanhava o então ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, fez gesto que identifica grupos de supremacistas brancos norte-americanos.
A Polícia do Senado concluiu que ele cometeu crime de preconceito. O Ministério Público deve enviar o caso para a Polícia Federal.
“MINISTRO” DO “GABINETE PARALELO”
O senadores aprovaram inicialmente a convocação do deputado federal Osmar Terra, mas a convocação foi convertida em convite após pedido do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), à CPI. O convite permite que Osmar Terra decida por não comparecer ou deixar a reunião a qualquer momento.
A oitiva de Terra atende a requerimentos dos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE), Humberto Costa (PT-PE), Rogério Carvalho (PT-SE) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
O convite foi aprovado depois da divulgação, pelo portal Metrópoles, de vídeo que mostra reunião entre defensores do chamado “tratamento precoce”, com cloroquina, para a Covid-19 e o presidente Jair Bolsonaro. Segundo os senadores, as imagens apontam que Osmar Terra seria o mentor intelectual do grupo.
Em entrevista na última sexta-feira (18), Randolfe, que é vice-presidente da CPI, afirmou que o colegiado já tem algumas certezas — entre essas, a existência desse gabinete paralelo:
“O ‘ministro’ desse gabinete vai estar aqui na terça-feira”, disse Randolfe.
Além disso, senadores destacam que o deputado, próximo ao presidente, fez manifestações públicas minimizando os impactos da Covid-19 e defendeu medidas como “imunização de rebanho” como forma de enfrentamento da pandemia.
NEGOCIAÇÕES COM PFIZER
Filipe Martins terá que explicar aos senadores a participação dele em reunião com representantes da farmacêutica Pfizer. Em depoimento à CPI, o CEO da empresa na América Latina, Carlos Murillo, revelou que representantes da Pfizer tiveram reunião com o ex-secretário de Comunicação da Presidência da República Fabio Wanjgarten, da qual também participaram o vereador Carlos Bolsonaro e Filipe Martins.
Segundo Humberto Costa e Rogério Carvalho, a participação do assessor nessa negociação reforça a tese da existência de “ministério paralelo” ao Ministério da Saúde. Alessandro Vieira também assina pedido para ouvir Martins.
“Ele também é um dos integrantes do gabinete do ódio, das fake news. Os personagens se repetem. Causa-nos estranheza a participação do assessor na negociação de vacinas”, apontou Randolfe na última sexta-feira.
COVAXIN
Entre os dois depoimentos, a CPI agendou para quarta-feira (23) a oitiva de Francisco Emerson Maximiano, sócio da Precisa Medicamentos, empresa investigada por intermediar a compra da Covaxin pelo governo federal.
O processo de aquisição do imunizante fabricado pela indiana Bharat Biotech foi o mais célere de todos, mesmo com dúvidas em relação à eficácia. Segundo Alessandro Vieira, é necessário apurar se houve algum tipo de beneficiamento ilícito na negociação.
Estão agendados para sexta-feira (25), os depoimentos de Jurema Werneck, diretora-executiva da Anistia Internacional e representante do Movimento Alerta, e Pedro Hallal, epidemiologista, pesquisador e professor da UFPel (Universidade Federal de Pelotas).
M. V.
Com informações da Agência Senado