A maior parte dos pagamentos do “orçamento secreto”, usado pelo governo Bolsonaro para comprar votos no Congresso Nacional, aconteceram nas semanas anteriores às votações decisivas.
Mais da metade dos R$ 19 bilhões reservados para as “emendas do relator” de 2020 foram efetivamente empenhados durante o período em que o governo Bolsonaro estava fazendo campanha para Arthur Lira (PP-AL) ser eleito presidente da Câmara.
Em 2021, outro pico de pagamentos aconteceu na segunda metade de outubro até novembro, quando o governo estava tentando aprovar a PEC dos Precatórios, que permite a União a dar calote em dívidas já reconhecidas pela Justiça.
Nas duas semanas anteriores à votação, que aprovou a proposta, foram movimentados R$ 1,4 bilhão através do orçamento secreto.
Com as emendas do relator, o governo Bolsonaro conseguiu distribuir emendas apenas para os deputados e senadores que apoiam suas propostas, conforme levantamento feito pela Folha de S. Paulo e publicado em sua edição deste domingo (14).
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por 8 votos contra 2, que essa ferramenta é ilegal e foge dos princípios republicanos. A Corte determinou a suspensão dos pagamentos.
Com os valores desse orçamento secreto, foram enviados recursos para municípios e obras das bases eleitorais dos parlamentares.
Até maio, o presidente da Câmara, Arthur Lira, pôde movimentar R$ 144 milhões do orçamento. O ex-presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), decidiu o destino de R$ 277 milhões.
O pai de Arthur Lira, Benedito Lira (PP), prefeito de Barra de São Miguel, em Alagoas, recebeu recursos dessa forma.
A cidade, que tem 8,4 mil habitantes, recebeu R$ 3,8 milhões. Para comparação, uma cidade vizinha que tem 12 mil habitantes, chamada Jequiá da Praia, não recebeu nenhum centavo do orçamento secreto.