O partido República em Marcha (LREM), do presidente Emmanuel Macron, colheu forte revés nas eleições municipais do domingo. Os franceses cobraram de seu governo os cortes efetuados com sua Reforma da Previdência realizada no começo de março.
O pleito também foi marcado por uma abstenção recorde e pelo avanço dos Verdes, que conquistaram várias prefeituras das cidades mais importantes.
Apesar das medidas de enfrentamento do Estado ao coronavírus e ao maior envolvimento e articulação de Macron, os eleitores foram às urnas com a rejeição aos cortes ainda muito presente.
As semanas de greves e manifestações (inclusive as massivas com os chamados “Coletes Amarelos”) não foram atendidas e a França viveu a maior reformulação do sistema de aposentadorias e pensões desde a Segunda Guerra Mundial, com forte retrocesso em direitos conquistados.
A aprovação do assalto à Previdência foi imposta por meio de um decreto draconiano – com base no artigo 49.3 da Constituição do país –, que permite declarar aprovado um projeto de lei, depois de autorizado pelo conselho de ministros, sem votação no parlamento, desde que não seja barrado por uma moção de censura. Ou seja, sem considerar as emendas apresentadas pela oposição, sem qualquer discussão, e contra a opinião majoritária da população. As primeiras eleições realizadas após meses de confinamento cobraram este preço, mantendo os votos à distância do partido de Marcon em quase todas as grandes cidades.
De acordo com as urnas, o partido Europa Ecologia – Os Verdes (EELV na sigla em francês) deve governar cidades expressivas como Lyon, Marselha, Bordeaux e Estrasburgo, além de participar da coalizão da socialista Anne Hidalgo, reeleita em Paris.
Conforme analistas, a abstenção recorde e o revés do República em Marcha, de Macron, marcaram este segundo turno adiado em três meses por causa da pandemia da covid-19. Além da perder em Paris, também não levou a prefeitura em Estrasburgo, onde as pesquisas lhe davam chances, enquanto só conseguiu uma vitória expressiva, na cidade portuária de Havre, onde o primeiro-ministro Édouard Philippe se elegeu prefeito. Ele continuará como chefe de Governo e não ocupará a prefeitura, podendo, pela legislação francesa, indicar substituto.
Dos cerca de 16 milhões de franceses convocados para o segundo turno, cerca de 40% foram à urnas. O longo intervalo entre as duas votações, a falta de comícios e campanha nas ruas e a existência de outras preocupações como a proliferação do vírus e o agravamento da recessão econômica explicam a baixa participação. No primeiro turno, em 15 de março, quando a pandemia já golpeava a França e 48 horas antes do confinamento do país, a participação foi de 44,7%. E no segundo turno da eleição municipal de 2014 havia chegado a 63,5%.
O segundo turno deveria ter ocorrido em 22 de março. Criticado por manter a primeira votação, Macron anunciou em 16 de março a suspensão da segunda e, no mesmo discurso, decretou o confinamento, que se prolongou até 11 de maio.