Depoimento foi feito dentro do Hotel de Trânsito do Exército e deixou militares contrariados. “Deveria receber a PF no seu gabinete na Saúde. Jamais numa instalação do Exército”, disse um general da reserva
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, prestou depoimento na quinta-feira (4) por mais de quatro horas para a Polícia Federal no inquérito que investiga sua omissão diante da crise em Manaus, ocasião em que internados morreram asfixiados por falta de oxigênio hospitalar.
Segundo o Ministério da Saúde, Pazuello “detalhou todas as ações realizadas e as que estão em andamento no Amazonas para atender a população e combater a covid-19”.
Eduardo Pazuello foi informado que iria faltar oxigênio nos hospitais da cidade e que pacientes teriam que ser transferidos para outros locais, mas sua demora para agir custou vidas.
O Ministério já sabia que o Sistema de Saúde de Manaus iria colapsar ainda antes do Natal, mas esperou mudar de ano para começar a tomar uma medida.
Segundo o procurador da República no Amazonas, Igor Spindola, o Ministério da Saúde suspendeu por um dia a entrega de oxigênio medicinal para o estado, enquanto “decidia o que fazer”.
“Eles não poderiam ter parado de mandar oxigênio, porque quando eles pararam, o oxigênio acabou”, afirmou o procurador.
Além disso, Eduardo Pazuello demorou até o dia 15 de janeiro para organizar a transferência de pacientes de Manaus para outros municípios e estados.
Segundo a Procuradoria-Geral da União (PGR), que pediu a abertura do inquérito, “apesar dessa recomendação e da informação de que os estados disponibilizaram 345 leitos do SUS para apoio aos pacientes provenientes de Manaus, os primeiros deslocamentos ocorreram apenas em 15/1/2021 e, até o dia 16/1/2021, somente 32 pacientes haviam sido removidos, ou seja, menos de 10% da capacidade disponibilizada”.
A PGR argumenta que a investigação foi aberta por conta da “possível intempestividade nas ações do representado [o ministro], o qual tinha dever legal e possibilidade de agir para mitigar os resultados”.
A omissão de Pazuello, que diz apenas executar ordens de Jair Bolsonaro, “pode caracterizar omissão passível de responsabilização cível, administrativa e/ou criminal”, aponta a PGR.
Em sua viagem à Manaus, onde deveria coordenar ações para reverter a situação, Eduardo Pazuello fez o lançamento de um aplicativo do Ministério da Saúde que orienta os médicos a receitar hidroxicloroquina para os infectados por coronavírus. A substância não tem nenhum efeito contra a Covid-19.
A PGR também abriu, a pedido do PCdoB, uma investigação preliminar para também apurar a omissão e o negacionismo de Jair Bolsonaro durante a pandemia.
EXÉRCITO
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que é general da ativa do Exército, prestou depoimento à Polícia Federal dentro do Hotel de Trânsito do Exército e generais ficaram incomodados.
Para um general da reserva ouvido pelo G1, Eduardo Pazuello não poderia ter prestado depoimento em uma instalação do Exército porque isso pode manchar a imagem da instituição.
“Apesar dele ser um general, ele está sendo investigado como ministro da Saúde. Portanto, deveria receber a PF no seu gabinete na Saúde. Jamais numa instalação do Exército. Já é muito negativo ele ser investigado. Porém, contaminar fisicamente a imagem do Exército com essa investigação é ainda pior”, disse.
Eduardo Pazuello reside no Hotel de Trânsito do Exército. Ele é criticado dentro do Exército por não ter passado para a reserva quando aceitou o cargo de ministro da Saúde. Dessa forma, suas ações – ou a falta delas – como ministro podem denegrir a imagem das Forças Armadas.