Chefe da Secom (Secretaria de Comunicação Social) é investigado pelo Supremo no inquérito dos atos golpistas. O governo do presidente Bolsonaro é uma confusão permanente. A nova crise agora é na Secom
Em processo de desembarque do comando da Secom (Secretaria de Comunicação Social) da Presidência da República, o empresário Fabio Wajngarten é investigado pela Polícia Federal (PF) no inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre financiamento e organização de atos antidemocráticos e chegou a ser alvo de pedido de busca e apreensão no final de julho de 2020.
A Procuradoria-Geral da República (PGR), comandada por Augusto Aras, se manifestou contra a solicitação dos investigadores, que acabou não ocorrendo. O argumento da equipe de Aras foi de que não havia lastro mínimo concreto que justificasse vasculhar a residência de Wajngarten e que as buscas poderiam ser substituídas por medidas menos invasivas.
A PF também pediu buscas na Secom, localizada no Ministério das Comunicações. A PGR também foi contra.
MEDIDA CAUTELAR
Objetivo da medida solicitada pela PF era de avançar sobre a suspeita de que o governo federal, por meio da Secretaria comandada pelo empresário, repassava de forma indireta dinheiro de publicidade para páginas bolsonaristas que estimularam atos antidemocráticos.
O pedido, feito em junho, foi encaminhado a Alexandre de Moraes. Relator do caso no Supremo, ele enviou o documento para a PGR se manifestar a respeito. O papel retornou ao gabinete do ministro no final de agosto, com a negativa para as buscas.
CONSPIRAÇÃO A FAVOR DO GOVERNO
Em novembro, Moraes mandou a resposta da PGR para a PF dessa vez opinar. A delegada do caso então disse não ser mais necessária a diligência pelo tempo que já havia passado, de mais de quatro meses.
Ao ser contra o pedido da PF, a PGR argumentou que até ali não havia provas contra os agentes públicos e indicou a necessidade da delegada primeiro realizar outros tipos de diligências, além de analisar os materiais que tinham sido coletados nas buscas anteriores.
A PGR também apontou que havia tentativa de direcionar os fatos aos investigados e que eles não estariam relacionados ao conjunto de provas acumuladas. A suspeita sobre Wajngarten é de que ele teria repassado informações enviadas pelo Google ao governo federal, para Allan dos Santos, do site Terça Livre, que também é investigado no inquérito.
Cópias de documentos da empresa de tecnologia foram encontradas em um computador do blogueiro durante busca feita em junho, solicitada pela PGR.
Segundo o pedido da PF, que não foi em frente, as buscas na Secom e na casa de Wajngarten eram importantes para coletar informações com servidores, documentos e contratos com a finalidade de entender a dinâmica do repasse de publicidade federal para sites e páginas na internet.
ENTENDA O CASO
A Secom contrata agências de publicidade que compram espaços por meio do GoogleAdsense para veicular campanhas em sites.
O anunciante escolhe que tipo de público quer atingir, em que tipos de sites não quer que sua campanha seja veiculada e quais palavras-chave devem ser vetadas. Então o Google distribui os anúncios para sites ou canais do YouTube que cumpram os critérios estabelecidos pelo anunciante.
A PF investiga se houve alguma ação ou omissão de agentes públicos da Secom na distribuição do dinheiro de publicidade para veículos que produziram e distribuíram conteúdos com ataques às instituições e contra a democracia.
Embora tenha apontado no relatório outros casos a serem investigados em inquéritos separados, a delegada afirmou que sobre o repasse de recursos de publicidade pela Secom não foi possível chegar a uma conclusão.
A CNN revelou trecho do relatório. A delegada afirmou que “não foi possível obter informações aptas a verificar se a Secom adotou medidas que impedissem o direcionamento de recursos federais aos canais”.
A investigadora disse ainda que apesar de a PF não ter “conseguido utilizar determinados meios de obtenção de prova (busca e apreensão, acesso ao conteúdo obtido pela CPMI [das Fake News], por exemplo)” é preciso aprofundar a apuração.
QUEM É FABIO WAJNGARTEN
Empresário paulistano de pouco mais de 40 anos. É formado em Direito, e em 2002 concluiu pós-graduação em Serviços de Marketing na ESPM em São Paulo. Seu pai, Mauricio Wajngarten, é um cardiologista conhecido em São Paulo. Ele embarcou no governo em abril de 2019, com a missão de melhorar a relação do governo com as empresas de mídia. Na época, a nomeação teve o apoio público do filósofo [astrólogo] e guru Olavo de Carvalho, que era crítico ao então superior de Wajngarten, o ex-ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo).
Sua empresa tem o nome fantasia de Controle da Concorrência. Além dos levantamentos de audiência, a empresa faz também o que se chama de “checking” no mercado de publicidade — isto é, verificar se as peças publicitárias contratadas foram realmente veiculadas.
Wajngarten conheceu Bolsonaro em 2016, e o auxiliou durante o período da campanha eleitoral. Também levou o então deputado federal a eventos da comunidade judaica em São Paulo — um exemplo foi um jantar da instituição filantrópica Hadassah Brasil, da área de saúde.
Segundo publicitários e jornalistas que trabalham com a comunicação pública, a chegada de Wajngarten à Secom realmente ajudou a esfriar os ânimos do setor — pois o governo vivia em atrito nos primeiros tempos.
“Todo o mercado comemorou a chegada dele (Wajngarten), justamente porque ele é um empresário da comunicação. Antes, tivemos quatro meses de um clima cinza, nublado. Os generais brecavam tudo, desconfiavam de tudo e de todos. Não sabiam a diferença entre pesquisa qualitativa e quantitativa, não sabiam o que é um plano de mídia”, diz um publicitário de uma das principais agências que atendem o governo, sob condição de anonimato.
“O Santos Cruz pensava que o BV (Bônus de Veiculação) era crime. Tivemos de mostrar a ele que não era, que estava na lei”, diz o profissional.
“A gente torce para que isto (a situação na Secom) se acalme, para que se use o bom senso”, completa. O BV é uma comissão paga às agências de publicidade na compra de espaços de mídia.
M. V.
A investigação sobre a participação do Wajngarten a frente da Secom, têm que ser aprofundada há indícios que da Secom saiu dinheiro para os neofascistas tramarem contra a democracia. A verdade acima de tudo e a Constituição acima de todos. Autoridades não sejam covardes a verdade têm que vir a tona condenando ou inocentando a lei é para todo.