AGU tentou por três vezes, sem sucesso, contestar a entrega do material
O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), informou que recebeu na sexta-feira (8) a gravação da reunião ministerial do dia 22 de abril, citada pelo ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, ocasião em que, segundo o ex-ministro, Bolsonaro ameaçou demiti-lo e o pressionou para interferir politicamente na Polícia Federal.
Celso de Mello, que é relator no inquérito que investiga as denúncias de Sergio Moro, havia dado 72 horas para o governo entregar a gravação. O ministro decretou sigilo temporário ao material entregue pelo governo. A Advocacia-Geral da União (AGU) informou que foi entregue ao Supremo a íntegra do material. Antes, a AGU havia solicitado autorização para editar o vídeo antes de mandá-lo ao STF.
Sergio Moro anunciou a demissão do cargo em 24 de abril. No anúncio, acusou o presidente Jair Bolsonaro de tentar interferir na Polícia Federal. Diante das declarações, a Procuradoria-Geral da República pediu, e o STF abriu um inquérito para investigar as acusações.
Moro disse à PF que, na reunião do conselho de ministros de 22 de abril, Bolsonaro cobrou a substituição do superintendente da PF no Rio de Janeiro e do então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, além de cobrar relatórios de inteligência e informação da PF. Moro informou que a PF não pode entregar relatórios sigilosos para a presidência porque a PF é polícia judiciária e não faz parte do sistema de inteligência do governo.
No dia 28 de abril, Bolsonaro fez menção ao vídeo. Ele disse a jornalistas que tinha pedido autorização dos ministros que participaram da reunião para divulgar o conteúdo. Com isso ele ameaçava Moro dizendo que iria provar que ele estava mentindo. Mas foi exatamente Sérgio Moro quem pediu à PF que solicitasse ao governo a cópia do vídeo. Segundo o ex-ministro, o vídeo ajudaria no esclarecimento sobre as pressões de Bolsonaro para controlar a PF.
Aos jornalistas Bolsonaro havia feito bravata para ameaçar Moro. “Eu comecei hoje a reunião de ministros pedindo uma autorização para eles, porque a nossa reunião é filmada. E fica no cofre lá, o chip. Eu falei ‘senhores ministros, eu posso divulgar o que eu falei na última reunião de ministros?’. Ninguém foi contra. Eu falei, tá certo”, disse o presidente na ocasião.
Mas, logo em seguida, ele voltou atrás a disse que tinha sido aconselhado a não divulgar o vídeo. Agora a peça está nas mãos da polícia.