
Os indígenas estão incluídos entre os grupos prioritários para vacinação contra a Covid-19 no plano do Ministério da Saúde, mas, comparando-se o número de indígenas apresentados pelo governo para receber a imunização e dados do censo do IBGE de 10 anos atrás, mais da metade da população indígena deixará de ser vacinada prioritariamente.
No plano entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF), na sexta-feira (12), 410.348 indígenas serão imunizados na primeira fase, mas há dez anos o IBGE apontava a existência de 896.917 indígenas no país e, segundo entidades indígenas, existem hoje muito mais de 1 milhão.
A questão é que na tabela do governo para o plano de vacinação só constam os indígenas atendidos pelo Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (Siasi/Sesai) até 27 de novembro de 2020, deixando de fora os indígenas que vivem nas cidades, que não são considerados pela Sesai.
A Sesai considera apenas os indígenas que vivem nas aldeias, o que também tem sido usado pelo governo para escamotear as estatísticas de indígenas infectados e mortos pela Covid-19, conforme denunciam os movimentos indígenas.
Segundo dados do governo Federal, ocorreram 499 mortes de indígenas por coronavírus, no entanto, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) afirma que, a partir de informações de organizações não governamentais e familiares, os casos de morte somam 892.
“Toda a discussão que temos tido no enfrentamento da pandemia é que esse tipo de discriminação não é algo correto e desejável. A vacinação prioritária deveria ser para todos os indígenas. Não deveria ter a ver com sua situação domiciliar. A prerrogativa da Sesai é pensar e executar essa atenção diferenciada. A vulnerabilidade indígena é encontrada em diferentes contextos, nas aldeias e também nas periferias das cidades”, afirma a médica sanitarista, pesquisadora da Fiocruz e coordenadora do Grupo de Trabalho Saúde dos Povos Indígenas da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), Ana Lúcia Pontes.
“A pandemia mostrou que a população indígena em áreas urbanas está tendo a prevalência da Covid muito maior”, afirmou a médica, citando um estudo coordenado pelo Centro de Pesquisas Epidemiológicas da UFPEL (Universidade Federal de Pelotas), que revelou que a prevalência do coronavírus entre a população indígena urbana é de 5,4%, enquanto na população branca é de 1,1%.