O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou hoje (29) que a taxa de desemprego no país atingiu 14,3% no trimestre encerrado em outubro, o que significa que 14,2 milhões de pessoas estavam procurando emprego sem encontrar no período. Também hoje chega ao fim o pagamento do auxílio emergencial que socorreu boa parte desses trabalhadores desocupados – sem que o governo tenha apresentado qualquer plano para manutenção da renda ou geração de empregos.
A taxa de desemprego calculada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad-Contínua) leva em conta apenas aqueles que estavam procurando trabalho nos dias antecedentes à coleta de dados. No trimestre anterior (maio a junho), a taxa estava em 13,8% – em números, isso significa que mais 931 mil pessoas passaram para a fila do desemprego. Sobre o mesmo trimestre do ano passado (taxa de 11,6%), o aumento foi 2,7 ponto porcentual, ou 1,7 milhão de pessoas.
Nessa última base de comparação, também chama atenção a queda na população ocupada – menos 9,8 milhões de pessoas sobre o trimestre encerrado em outubro de 2019. Nesse cálculo estão os trabalhadores com carteira assinada que, ao contrário das contas do Ministério do Trabalho, recuou em mais de 10% (menos 3,4 milhões de pessoas), segundo o IBGE.
Subutilização alcança 32,5 milhões
Assim, a taxa composta de subutilização (reúne desocupados, subocupados, desalentados e quem não procurou trabalho por motivos diversos) alcançou 32,5 milhões de pessoas, um aumento de 20% frente ao mesmo período do ano passado.
Destacada a população desalentada, o IBGE notou que esse percentual frente à população dentro da força de trabalho subiu para 5,5%. São 5,8 milhões de pessoas (crescimento de 25%) ante o mesmo trimestre do ano anterior.
No cenário de pandemia e de crise econômica em que o país se encontra, até mesmo a informalidade (que atingiu níveis gigantescos no ano passado) arrefeceu. A taxa de trabalhadores informais foi, no período da pesquisa, de 38,8% da população ocupada (32,7 milhões de trabalhadores em condições informais). No ano passado, eram 41,2%.
Sobre o trimestre imediatamente anterior, o IBGE afirma que houve um crescimento de 9% no número de trabalhadores informais por conta da flexibilização das medidas de circulação impostas pela pandemia. Economistas afirmam que a tendência é esse número estourar no próximo período com o fim do auxílio emergencial e a incapacidade do mercado formal de absorver esses trabalhadores.
Números subestimados
Estudo recente dirigido pelo professor da FEA/USP e pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), Hélio Zylberstajn mostrou que, na realidade, 53,2% da população em idade de trabalhar ficou sem ocupação em 2020.
Para chegar ao número, um recorde histórico, a pesquisa somou o contingente de pessoas que não estava trabalhando ou procurando emprego, ao cálculo de desocupados da Pnad-Contínua, chegando a marca de 93 milhões de pessoas. Em dezembro de 2019, essa taxa era de 44,9%.
Como previsão para 2021, o fim do auxílio emergencial e a redução do distanciamento social tendem a aumentar ainda mais o número de desocupados segundo os critérios do IBGE. Ou seja, o número de desempregados que estão na rua disputando uma ocupação.
“A gente vai ter uma mudança na força de trabalho. Vai aumentar muito a quantidade de desocupados, que são uma parte dos não ocupados. Eles vão voltar ao mercado de trabalho, mas não vai ter ocupação para todo mundo”, disse Zylberstajn.