Pesquisador Michael German alerta que crescimento dos grupos neonazistas ocorreu após a eleição do presidente Jair Messias Bolsonaro.
A Operação Bergon, ação conjunta entre a Polícia Civil do RJ e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) prendeu nesta quinta-feira (16) quatro membros de grupos neonazistas que disseminava ódio contra negros e judeus em redes sociais. Os integrantes conversaram até sobre a compra de armas e ataques em festas de final de ano.
A operação prendeu quatro pessoas e cumpriu 31 mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A investigação sobre a existência de células neonazistas no Rio começou após o atentado à uma creche em Santa Catarina e as apreensões de celulares de suspeitos de conexão com o crime, em maio.
Agentes saíram para cumprir, no total, quatro mandados de prisão e 31 de busca e apreensão no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Ainda em maio, a partir dessas informações, agentes da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (Dcav) prenderam José Raphael Tomas Zéfiro. A polícia apreendeu com ele um computador, um telefone e quatro videogames. Na análise dos aparelhos, agentes da Dcav descobriram que ele mantinha contato com adultos e menores.
O nome da operação faz alusão à freira francesa Denise Bergon, que usou seu convento para abrigar crianças judias entre alunos católicos durante a Segunda Guerra Mundial, evitando que fossem capturadas pelos nazistas.
ATAQUE
De acordo com a Polícia Civil, um dos alvos da Operação tinha armamento e planos para cometer um ataque em festas de final de ano em São Paulo.
“Apreendemos armas de fogo, bombas caseiras. O alvo disse que usaria as bombas caseiras em uma festa de final de ano”, disse o delegado Adriano Franca, titular da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (Dcav), durante coletiva na Cidade da Polícia.
Dentre os materiais apreendidos pela polícia na Operação Bergon, estão: taco com arame farpado, facões, armas, arco e flecha, facas, machadinhas e uniformes militares. Na casa de um dos suspeitos, a polícia encontrou livros que falam sobre a vida de Adolf Hitler, líder do nazismo. Em outra residência, a suástica, um dos símbolos mais conhecidos do nazismo, estava desenhada em portas e paredes.
A polícia encontrou ainda mensagens de ódio e ameaças de morte em celulares apreendidos. “São mensagens de intolerância racial e religiosa, falam de morte a judeus, morte a negros, morte a nordestinos”, disse o delegado Rodrigo Coelho durante a coletiva de imprensa na Cidade da Polícia.
Para o promotor Bruno Gaspar o conteúdo das mensagens ultrapassa o limite da liberdade de expressão.
“Foi feita uma análise profunda dos celulares apreendidos e o MP sempre irá apoiar a manifestação de pensamento. Acontece que a manifestação do pensamento deixa de ser protegida pela liberdade de expressão quando é disseminação do ódio”, declara.
Neonazistas crescem sob Bolsonaro
Segundo o, coordenador do núcleo de Estudos Judaicos da UFRJ, Michel Gherman, grupos neonazistas tem crescido cada vez mais no sudeste do Brasil. De acordo com o pesquisador esse número pode chegar a milhares no país.
“O Brasil é o país que teve o maior crescimento de neonazistas no mundo entre 2018 e 2021. É um crescimento fora de série, que marca uma tensão de entender o que está acontecendo. Esse crescimento neste período específico se dá a partir de alguma coisa que acontece e o que aconteceu foi a eleição do presidente Jair Messias Bolsonaro. Esse grupos no Rio, estima-se que sejam entre dezenas e centenas”, disse Gherman em entrevista ao jornal ‘O Dia’.
Para o pesquisador, grupos neonazistas se sentem encorajados a partir do discurso de intolerância.
“A primeira questão, na verdade, é que grupos neonazistas se sentem à vontade a partir de uma inspiração do governo. (…) O número de adeptos tem crescido mais que o número de grupos, o que também é muito perigoso. Eles estão deixando de ser grupos divididos e passando por um processo de unificação, o que os deixa ainda mais forte”, alertou.