Após a confirmação da circulação da variante Delta da Covid-19 em São Paulo e no Rio de Janeiro, o governo do Estado paulista está analisando reduzir de 90 para 60 dias o intervalo de aplicação entre a primeira e a segunda dose das vacinas da AstraZeneca e da Pfizer. A medida é uma alternativa para evitar o avanço da variante, de origem indiana, no estado.
A proposta, se aprovada, daria imunidade completa de maneira antecipada aos grupos que estão aguardando a segunda dose, mas, poderia atrasar a campanha para os mais jovens.
O Centro de Contingência da Covid-19 avalia ainda, pois a medida pode esbarrar em falta de imunizantes para completar o ciclo vacinal dos adultos, em um prazo mais curto, que o estabelecido até aqui, como gostaria o governo do estado. Nos próximos dias essas possibilidades serão estudadas.
Segundo o secretário de Saúde, Jean Gorinchteyn, a antecipação da segunda dose da AstraZeneca e da Pfizer será tratada na reunião semanal do Programa Estadual de Imunizações, na próxima quinta-feira, mas ressalta que a falta de doses disponíveis é um empecilho.
“Também precisamos ter mais doses dessas vacinas, principalmente das outras vacinas, da Pfizer e da AstraZeneca, para que esse intervalo (reduzido) entre uma dose e outra possa, sim, ser estabelecido. Sem esse alento, pela chancela e liberação do Ministério da Saúde, que coordena o Plano Nacional de Imunização, por mais que essa decisão aconteça, ela terá operacionalmente terá entraves”, afirmou Gorinchteyn durante coletiva de imprensa no Palácio dos Bandeirantes, nesta quarta-feira. Na ocasião, também foi anunciada a compra de 4 milhões de doses extras de CoronaVac para uso em São Paulo e uma nova flexibilização das medidas de restrição.
Dimas Covas, presidente do Instituto Butantan, também se mostrou favorável a uma antecipação do calendário de vacinação da segunda dose.
“A tendência (da variante Delta) dada pela sua rápida disseminação é que ela seja a variante que predomine no mundo. É uma variante muito preocupante. E há a questão das vacinas: as vacinas que têm duas doses só completam a imunidade após a segunda dose. No caso da vacina do Butantan (CoronaVac), esse intervalo é de 28 dias. Então, você completa a imunização mais rapidamente quando comparado com as vacinas que têm intervalo de três meses”, disse Dimas Covas na coletiva.
“Essas vacinas que têm intervalo de três meses, obviamente que você só vai completar a imunidade passados quase quatro meses da primeira dose. Então, sem dúvida, a possibilidade de antecipação da segunda dose para essas vacinas deve ser considerada, sim. Porque embora as vacinas possam não responder à variante delta de uma maneira geral, o fato de ter a imunidade completa ajuda substancialmente”, disse Covas.
Transmissão da variante Delta
Nesta quarta-feira, o governo de São Paulo confirmou que a variante Delta da Covid-19 está circulando no estado entre pessoas que não viajaram ao exterior.
A Prefeitura de São Paulo investiga se houve transmissão comunitária da variante Delta na capital após a confirmação do diagnóstico de um homem de 45 anos com a cepa indiana do coronavírus.
Ele está em casa com a mulher e os dois filhos desde que o teste de Covid-19 deu positivo. “Passam bem, sem sintomas graves. É uma família consciente e cooperativa. Ele trabalha em home office e todos estão com a doença, mas não temos confirmação da variante Delta nos demais. Estamos investigando os contatos que tiveram, todo o entorno, mas não é possível falar, neste momento, em transmissão comunitária”, explicou o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB).
A família é monitorada pelas equipes da Vigilância Sanitária e da UBS (Unidade Básica de Saúde) Belenzinho, na zona leste, onde moram. O sequenciamento genético, a partir do exame RT-PCR da mulher do paciente, é feito agora, mas o resultado sai em até 15 dias. Segundo a prefeitura, não houve condições de fazer o mesmo processo com os filhos.
A partir do momento da confirmação da variante Delta pelo Instituto Butantan, as equipes procuraram a família para saber com quem teve contato recentemente. A mulher trabalhava fora. É feito agora o rastreamento dessas pessoas com o objetivo de identificar se algum deles teve contato com algum viajante que possa ter trazido a nova cepa do coronavírus.
A prefeitura não soube precisar quantas pessoas estão em isolamento, além dos quatro integrantes da família.
De acordo com o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, a investigação está só começando. “Tem que ser uma coisa com precisão. Estamos rastreando todos os contatos que a família fez. Se constatar que todos não tiveram contato algum com quem viajou, aí sim nós podemos afirmar que há transmissão comunitária e a estratégia que a gente vai adotar”, afirma.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, por enquanto, a estratégia continua a mesma: monitoramento da rede, acompanhamento dos casos positivos de covid-19 e o avanço da vacinação. Hoje a capital tem 63% da população elegível acima de 18 anos vacinada com, ao menos, a primeira dose. São mais de 7,6 milhões de doses aplicadas.