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Sofrendo com a maior estiagem dos últimos cem anos, a região amazônica, com queda dramática no nível dos seus principais rios pelo quinto mês consecutivo, traz “à tona a falta de gestão hídrica na região que tem mais água doce no planeta”.
É o que denuncia o artigo publicado no site “Outras Palavras”, assinado pelo cientista social Sandoval Alves Rocha, ao expor a situação vivida pelos moradores de Manaus para além da seca: “ausência de esgotamento sanitário e a falta de água”, em especial pelos moradores da periferia, após a privatização do setor, no ano 2000, que até agora já passou pelas mãos de quatro grupos empresariais.
Atualmente a concessão do sistema de água e esgotamento sanitário de Manaus pertence a Águas de Manaus, do grupo AEGEA, maior operadora privada do setor, dona de 56% desse segmento no país.
Por conta da ineficiência na prestação de serviços e inúmeras irregularidades, com “pobres excluídos do sistema, tarifas caras, esgotamento sanitário ausente na maioria da cidade, poluição dos corpos hídricos, espoliação hídrica, etc.”, como afirma Sandoval Alves, a concessão do setor já foi alvo de três CPIs (Comissão Parlamentar de Inquérito) na Câmara Municipal de Manaus.
“Com a privatização optou-se por beneficiar o mercado da água em detrimento do atendimento digno aos manauenses. Mais uma vez optou-se por privilegiar o setor financeiro, negligenciando a preservação e o cuidado dos recursos naturais”, afirma Sandoval, que em outro artigo, publicado em julho, denunciou as dificuldades vividas pela população de diversas localidades da região com a falta de água.
“As manifestações ocorreram principalmente na zona oeste, mas o problema se estendeu pelas diferentes zonas da cidade, obrigando os moradores saírem com galões à procura de água. No bairro Petrópolis, zona sul, as pessoas conseguiram abastecimento somente em uma torneira na calçada do CAIC (Centro de Atendimento Integral da Criança). Infelizmente, não se trata de um problema isolado. Moradores das zonas norte e leste não cessam de reclamar”, escreveu.
Segundo ele, “a boa imagem que a empresa procura construir pela força de sua assessoria de comunicação não está resistindo aos fatos, uma vez que ela se mostra deficiente em diversos aspectos”.
Na matéria, ele cita manifestações de revolta da população, como a de um internauta que desabafa: “ultrajante uma empresa desse porte na capital que mais tem água no mundo se dar ao luxo de não ter meios de fornecer água por queda de energia em pleno século 21”.
Segundo Sandoval Alves, o site de reclamações do governo está repleto de queixas sobre os “serviços precários ou a total ausência deles, principalmente nas periferias e lugares mais pobres da cidade”.
“As cobranças indevidas, a má qualidade dos serviços, os valores abusivos, a demora na execução e o mau atendimento da Águas de Manaus, são práticas que falam sobre a empresa, mostrando o seu modus operandi e forma como ela trata a população manauara”, afirma.
Ele denuncia a Câmara dos Vereadores de Manaus (CMM) por ter finalizado no mês passado mais uma CPI sem investigar de fato as irregularidades cometidas pela empresa.
“Perderam a oportunidade de fazer um grande bem à cidade”, diz. “Se os parlamentares tivessem feito o seu trabalho, eles teriam melhorado os serviços que hoje são motivo de tanta revolta. Omissos diante dos serviços precários, a Câmara de Vereadores de Manaus, a Prefeitura de Manaus e a Agência Reguladora são hostilizadas pela população indignada”.
De acordo com Sandoval, “cidades como Manaus, que nasce das águas, se dá conta de que a água não é ilimitada e por isso deve ser gerida responsavelmente. Essa seca mostra que a imensidão das águas não passa de uma ilusão. É necessário saber usá-las, direcionando-as para os serviços essenciais e tais serviços não devem obedecer aos parâmetros da lucratividade absurda, mas aos princípios que regem a teia da vida, que se manifesta de variadas maneiras”, finaliza.