Segundo o juiz Marllon Sousa, há indícios de que o delegado da PF, Bruno Calandrini, foi vítima de “retaliação por investigar pessoas de reconhecido poder político e econômico” por parte da gestão da PF ainda no governo anterior
Decisão do juiz Marllon Sousa, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), suspendeu inquérito da Corregedoria da Polícia Federal contra o delegado Bruno Calandrini que comandava a investigação sobre o esquema de corrupção descoberto na gestão do ex-ministro Milton Ribeiro, no Ministério da Educação, no governo Bolsonaro.
Dessa forma, a apuração dos fatos estará suspensa até que o TRF-1 julgue o mérito da sentença judicial.
O magistrado considerou, em sua decisão, que não há elementos para concluir que o delegado cometeu abuso de autoridade. Segundo o juiz, há indícios de que Calandrini foi vítima de “retaliação por investigar pessoas de reconhecido poder político e econômico” por parte da gestão da PF ainda no governo anterior.
Tudo começou quando o delegado determinou o indiciamento de integrantes da cúpula da PF após interrogatórios que sucederam a prisão do ex-ministro. De acordo com Calandrini, houve um flagrante descumprimento de ordem judicial que exigia a transferência de Milton Ribeiro do município de Santos para Brasília.
Com isso, ele passou, conforme suas próprias palavras em entrevista ao O Globo, de “investigador” para “investigado”. Na ocasião, ele apontou a “interferência” de escalão superior na investigação que se encontrava em curso.
Agora, com a mudança do governo, o escândalo do tráfico de influência no MEC dos pastores que eram amigos de Bolsonaro e de Milton Ribeiro voltou à baila. Pedido apresentado pela deputada federal Luciene Cavalcante (PSOL-SP) à Controladoria-Geral da União na última semana solicita o fim do sigilo às visitas desses pastores ao ex-ministro e ao ex-presidente.
O Planalto impôs o sigilo por decreto em abril de 2022 em torno do esquema em que são investigados pela PF os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura. Ambos são fortes suspeitos de pedir propina para liberação de verbas a determinadas prefeituras.
Gilmar é presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil e Arilton é assessor de Assuntos Políticos da organização religiosa.
À época do escândalo, Milton Ribeiro chegou a ser detido, tendo a sua prisão revogada por decisão judicial posterior.