
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, vai falar novamente à CPI da Pandemia. Senadores querem que esclareça sobre autonomia dele à frente da pasta. CPI também vai inquiri-lo sobre o chamado “gabinete paralelo”
O retorno do ministro Marcelo Queiroga à CPI da Pandemia, marcado para a próxima terça-feira (8), ganhou novos contornos com o depoimento da infectologista Luana Araújo na última quarta-feira (2).
Após ouvirem a médica falar da dispensa dela da Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 do Ministério da Saúde — ela chegou a ser anunciada, mas não nomeada — senadores de oposição disseram que Queiroga vai precisar responder sobre a real autonomia dele no comando da pasta.
O vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), acredita que o depoimento de Luana Araújo dá nova dimensão à ideia de um “gabinete paralelo” no governo federal, trabalhando à margem do Ministério da Saúde. Para Randolfe, esse núcleo não foi neutralizado com a chegada de Marcelo Queiroga, ao contrário do que o ministro teria sinalizado.
“Existe um gabinete negacionista, um grupo que continua impedindo que os melhores quadros da ciência brasileira possam contribuir no enfrentamento à pandemia. Até os senadores governistas confirmaram que ela preenche os requisitos técnicos. Qual a razão para se vetar um quadro dessa qualidade?”, questionou Randolfe.
AUTONOMIA EM XEQUE
O senador Humberto Costa (PT-PE) entende que as afirmações de Queiroga à CPI sobre ter autonomia para montar sua equipe estão em dúvida e fazem parte das contradições que o ministro precisará explicar em seu novo depoimento. O senador, que foi ministro da Saúde no governo Lula, também disse que as credenciais técnicas de Luana Araújo são claras, e teriam ajudado o país no contexto atual.
“O ministério tem uma burocracia de carreira muito importante, funcionários experientes e bem formados. O que aconteceu foi que, durante a gestão [de Eduardo] Pazuello esse pessoal foi colocado para escanteio. O ministério tem quadros, o problema não foi esse. Pode encher o ministério de epidemiologista e infectologista que, com essa orientação, não vai dar certo nunca”, comentou Humberto Costa.
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) elogiou o depoimento “assertivo” de Luana Araújo, a quem classificou como profissional “altamente qualificada”. Nas suas falas, disse o senador, ela conseguiu separar a ciência do debate político. Tudo isso, concluiu ele, pressiona ainda mais o ministro da Saúde.
“Ela mostrou que tinha projetos altamente qualificados para a saúde pública e foi impedida de atuar. Que Queiroga esclareça esse ponto. Quando ele vai constatar o mesmo que seus antecessores: que a parte política do governo não permite que os técnicos trabalhem?”, ponderou.
NOVOS DEPOIMENTOS
Além do ministro da Saúde que vai depor na próxima terça-feira estão previstas as seguintes oitivas:
- quarta-feira (9): Élcio Franco (ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde). Ele era o braço-direito do ex-ministro Eduardo Pazuello na pasta.
- quinta-feira (10): Wilson Lima (PSC) (governador do Amazonas). No depoimento, por óbvio, o governador terá de explicar a crise do oxigênio pela qual o estado passou no início do ano.
- sexta-feira (11): Cláudio Maierovitch (ex-presidente da Anvisa e da Fiocruz) e Nathalia Pasternak (pesquisadora da USP).
- terça-feira (15): Marcellus Campêlo (secretário de Saúde do Amazonas). Os senadores, novamente, irão questionar a crise de abastecimento de oxigênio no Estado.
- quarta-feira (16): Wilson Witzel (ex-governador do Rio de Janeiro). Ele sofreu impeachment após acusação de comandar esquema de corrupção na construção de hospitais de campanha.
- quinta-feira (17): Carlos Wizard (empresário integrante do chamado “gabinete paralelo”). Ele é apontado como conselheiro do presidente Jair Bolsonaro na pandemia, um dos líderes do “gabinete”.
Com informações da Agência Senado