Na avaliação do coronel José Vicente da Silva, “não tem mais como reclamar de quem trabalha corretamente”. Medida é apoiada por 90% da população paulista
Coronéis da Policia Militar de São Paulo rebatem críticas de candidatos nas eleições deste ano, contrários às câmeras nas fardas dos policiais. Para o coronel José Vicente da Silva, professor do Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais da PM paulista, os principais críticos do projeto como Tarcísio de Freitas e capitães afastados, que estão no Parlamento – são movidos por questões eleitorais.
É o caso de Tarcísio de Freitas, candidato apoiado por Jair Bolsonaro ao governo do Estado de São Paulo, pelo Republicanos. “Tarcísio pode saber comandar uma patrulha, mas nunca chefiou um batalhão, nem tem conhecimento estratégico dos programas de policiamento da PM paulista, que se orgulha de nunca ter precisado de ajuda do Exército para manter a ordem no Estado”, afirma.
José Vicente informa que um levantamento entre seus alunos revelou que três terços da tropa são a favoráveis ao programa, que também é apoiado pelos seus concorrentes de Freitas Fernando Haddad (PT) e Rodrigo Garcia (PSDB), atual governador do Estado. “Estou falando de capitães que estão de serviço. São eles os gerentes mais próximos da tropa”, diz.
“Os policiais estão cada vez mais gostando da brincadeira da câmera porque quem trabalha direito ganha proteção. Porque, frequentemente, os policiais são acusados por filmagens a distância e por reclamações de presos nas audiências de custódia e, agora, não tem mais como reclamar de quem trabalha corretamente”, disse José Vicente
Para o coronel, os parlamentares oriundos da PM contrários ao projeto estão há muito tempo afastados da PM e desconhecem o programa ou nunca tiveram “experiência estratégica da polícia”.
“Ou seja, têm um olhar de baixo para cima (capitães) e nunca estiveram no topo da carreira para emitir opinião que tenha característica estratégica”. Para ele, o simples fato de serem oficiais da PM não lhes dá respaldo para dizer o que é bom e o que não é bom para a polícia.
Na sua avaliação, os postulantes a cargos eletivos contrários ao projeto desconhecem aspectos do trabalho da polícia. Eles (os candidatos) dão seus palpites, como se as fontes que eles têm fossem suficientes para compreender toda a atividade policial e, nisso, desrespeitam muitos aspectos técnicos, como é o caso das câmeras. Elas são parte de um projeto que já tem oito anos e foi minuciosamente trabalhado”, explica.
“É um projeto – há um escritório de projetos na PM, que procura colocar dentro de modelagens os projetos, o que é inclusive uma disciplina do mestrado da PM. Eles não procuram a PM porque julgam que as suas fontes são suficientes”, prossegue.
O coronel José Vicente se tornou um dos maiores interlocutores das PMs do País com as universidades e campo político e sua atuação é pautada pela defesa da modernização do policiamento em busca da eficiência no combate ao crime.
EVIDENTE DESRESPEITO
Outro coronel, que comanda o policiamento de uma área da Grande São Paulo, comparou a postura de Tarcísio à de um hipotético capitão da PM que se tornasse ministro da Defesa e resolvesse mudar programas do Exército sem consultar o Alto Comando da Força Terrestre.
O oficial diz que a postura do candidato de Bolsonaro constitui “evidente desrespeito” ao trabalho da corporação, que durante oito anos estudou e testou o projeto das câmeras.
Em entrevista ao Roda Viva, Tarcísio alegou ouvir nas ruas soldados críticos ao programa, o que, de acordo com o coronel, incentiva o conflito entre praças e oficiais, além de comprometer a hierarquia e a disciplina da tropa.
“Há que se respeitar aspectos técnicos do trabalho, do cotidiano e do planejamento da PM, que tem se esmerado no planejamento de suas ações, distribuição de efetivo e organização de unidades, tudo levando em conta aspectos técnicos”, ressalta Vicente.
REDUÇÃO DAS MORTES E VIOLÊNCIA
Segundo um levantamento da PM, O projeto das câmeras levou à redução dos casos de mortes de policiais no Estado. Em 2021, a corporação registrou o menor índice de mortes em 31 anos – apenas um policial morreu em tiroteio durante o serviço. O equipamento aumentou a segurança dos policiais. Além disso, o dispositivo ampliou o aumento de poder dos policiais, que dispõem agora de prova de que agiram corretamente.
Ainda segundo o levantamento da PM, na comparação entre os meses de junho e outubro de 2019, 2020 e 2021, as ocorrências de resistência às abordagens policiais caíram 32,7% nos batalhões que usam as câmeras operacionais portáteis. Nos demais batalhões, a redução no período ficou em 19,2%.
Bolsonaristas alegam que o projeto se destina a monitorar os policiais ao invés de vigiar os criminosos. De acordo com a corporação, essa é outra “bobagem” inventada com fins eleitoreiros. Além disso, houve queda no número de reclamações contra policiais na Corregedoria e nos batalhões que usam as câmeras.
O equipamento também foi decisivo para desmontar acusações falsas contra PMs. Tarcísio afirma que preferiria gastar dinheiro aumentando a vigilância de presos que estão em liberdade condicional ou temporária.
José Vicente rebate o argumento do candidato. Ele afirma existirem 350 mil pessoas nessas condições no Estado de São Paulo. Para vigiar somente 20 mil delas seria necessário gastar R$ 10 milhões por mês ou R$ 120 milhões por ano.
Já com as câmeras dos PMs, o investimento é de R$ 800 por equipamento com toda a assistência técnica e atualização incluída. “O candidato Tarcísio com seu passado de capitão do Exército, com sua experiência de Haiti, se julga em melhores condições para tratar do tema, mas sua experiência no Exército não tem nada a ver com a de Polícia Militar e de policiamento”, critica.
Para os coronéis da PM, como o ex-comandante do policiamento da Capital Glauco Carvalho, o programa das câmeras vai revolucionar a forma como se faz polícia no Brasil e aumentará a aprovação e a confiança da população na PM.
Além de aumentar os subsídios do processo criminal. Em muitos dos casos, bastará o juiz assistir ao vídeo para proferir sua sentença, com a certeza de que o policial agiu corretamente, alega.
“Com a pesquisa DataFolha, que mostrou o apoio de 90% da população ao programa, eu acredito que os candidatos vão rever sua posição”, afirmou José Vicente.
Para o coronel, tudo o que é discurso agora terá de ser moderado pela realidade dos fatos. “A PM acredita muito na sua argumentação e vai desconstruir muito do que os candidatos estão falando”, finaliza.