Reproduzimos aqui o artigo de Iso Sendacz, que o entitulou com o mesmo nome do filme mais recente do cineasta Michael Moore, onde ele repudia as invasões perpetradas pelos Estados Unidos, enquanto ressalta o que, de fato, os EUA deveríam aprender com os demais povos. Segue o artigo.
ISO SENDACZ*
O cineasta Michael Moore é bastante conhecido por seus documentários criticarem de forma contundente e bem-humorada os seus Estados Unidos da América. Da sua câmera, Tiros em Columbine, sobre adolescentes armados na escola, Fahrenheit – 11 de Setembro, em torno do atentado famoso, e Sicko, uma digressão sobre o sistema estadunidense privado de saúde.
Sua obra-prima mais recente dá título a este artigo: Quem vamos invadir agora?
Moore “demite” a direção do Pentágono pelos sucessivos fracassos na Coreia, Vietnã e países árabes, que sequer petróleo barato retornaram aos EUA, e resolve ele mesmo invadir países da Europa, em busca de coisas que os Estados Unidos necessitam. Não em um porta-aviões atômico, como eles gostariam…
Da sua viagem, conquistou muitas ideias, aplicadas em países de distintas civilizações:
Na Itália, conheceu as férias remuneradas de 8 semanas, acompanhadas de 13º salário e licença maternidade, além da satisfação dos magnatas industriais em ter sob suas ordens trabalhadores felizes.
Na França, almoçou com as crianças em escola pública um recorrente e sofisticado cardápio com quatro pratos, preparados por um chef. Na Finlândia, país onde é proibida a educação privada, conheceu o sistema universal de educação, considerado o número um do planeta – e sem testes de múltipla escolha nem pilhas de deveres extra-classe que impeçam a criança de vivenciar a sua idade.
Chegando à Eslovênia, conheceu uma criatura fantástica: o estudante universitário sem dívidas escolares. Ensino superior gratuito, inclusive para estrangeiros. A juventude eslovena derrubou o ministro que pensou em começar a cobrar…
De lá para a Alemanha, onde o dia laboral encerra às 15 horas e o resto da tarde é usado para aproveitar o sol e tomar um café na praça. Aos que se estressam, o spa é público e gratuito. Tudo isso hoje sem renegar o passado tenebroso do país, todas as escolas formam jovens para que nunca mais se repitam os horrores do nazismo.
O estadunidense chega a Portugal em um Primeiro de Maio e acompanha os protestos dos trabalhadores do país. Mas a questão central é que na “terrinha” não se pode prender ninguém por porte de drogas, descriminalizadas. A medida de direitos humanos fez reduzir não só o consumo como os crimes a ela associados.
Na Noruega distante, Moore conheceu o sistema prisional. Sim, lá os presos, além de estudarem, andam de bicicleta, nadam no rio, têm a chave da própria cela. E, mesmo na segurança máxima, os agentes se armam apenas com palavras.
O cineasta e sua modesta equipe ainda “invadiram” a Tunísia e a Islândia, para apreender o direito conquistado das mulheres à igualdade de oportunidades na sociedade. Mostras disso, além da primeira mandatária feminina do mundo no país insular, foram a clínica reprodutiva no país africano muçulmano e o fato de o único banco islandês a não afundar na crise de 2008 ser o dirigido por mulheres. Na ilha, inclusive, 70 banqueiros foram processados por imprudência (muitos presos), por perderem o dinheiro todo dos depositantes.
Os EUA, explica a seção final do documentário, carecem de muitas das conquistas vistas em outros países: uma terra que oculta sua história e serve-se à larga da ampla população encarcerada como mão-de-obra escrava do século 21. A reincidência criminal dos que saem do cárcere, aliás, é quatro vezes superior ao da Finlândia.
CARGA TRIBUTÁRIA E DESPESA TOTAL DO CIDADÃO
Cobra menos impostos, é verdade, mas mais da metade vai para o orçamento de guerra. Assim o cidadão gasta muito mais do que seus pares europeus para sobreviver. Vive, em média, quatro anos menos que os franceses. E raramente tira férias de um mês inteiro.
As autoridades visitadas, no entanto, informaram que muitos dos benefícios mostrados tiveram sua origem nos EUA: os pais fundadores da pátria norte-americana asseguraram que todos nascem iguais e a ninguém será dado tratamento cruel ou desumano. E o primeiro Primeiro de Maio ocorreu na terra do tio Sam.
Assista o filme:
*Engenheiro Mecânico pela EESC-USP, especialista aposentado do Banco Central, ex-diretor diretor do Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central e conselheiro do Instituto Cultural Israelita Brasileiro, membro da direção estadual paulista do Partido Comunista do Brasil. De São Paulo, mora em Santos. Matéria pode ser vista no blog de Iso Sendacz ou através do link: