Joaquim Lavado, conhecido mundialmente como quino, criador da personagem Mafalda e o mais famoso dos desenhistas de quadrinhos da Argentina, faleceu na manhã desta quarta-feira (30).
A vice-presidente Cristina Kirchner despediu-se de Quino agradecendo-lhe a criação de Mafalda, uma personagem “que iluminou toda uma geração” e que “interpelou a sociedade”, dizendo “as coisas que não se podiam dizer em épocas em que a palavra estava proibida”.
“Até sempre, Mestre!”, saudou.
Quino nasceu em 1932, em Mendoza, onde voltou a morar desde 2017, após a morte de sua mulher, Alicia Colombo.
Seu nome será sempre associado ao de sua personagem mais conhecida, a menininha esperta, que brinca com metáforas sobre problemas políticos e sociais e escracha as injustiças, os preconceitos, a ignorância.
Quino começou a ser cartunista desde criança, por influência de um tio que era designer gráfico. Mais tarde, estudou Belas Artes na Universidade de Cuyo. Não terminou o curso, mas aprimorou seus traços conhecendo melhor os conceitos básicos de desenho e proporções.
Quino se mudou para Buenos Aires aos 18 anos para tentar trabalhar como desenhista. Porém, passaria três anos enfrentando dificuldades econômicas até conseguir realizar seu sonho. “O dia que publiquei minha primeira página (no semanário Esto es, em 1954) foi o momento mais feliz de minha vida”, disse conforme publicação em seu site oficial:
A partir daí, Quino passou a desenhar ininterruptamente para diversos jornais e revistas. Seu desenho atravessou fronteiras e foi reeditado na América Latina e Europa.
Ele criou a Mafalda já em seu primeiro emprego como desenhista publicitário, em 1962. A garotinha seria personagem de uma peça de propaganda, que foi rejeitada por jornais na época por não quererem se confundir com seu conteúdo questionador, e os personagens criados por Quino para essa encomenda permaneceram na gaveta. Porém, ele recuperou Mafalda dois anos depois, em 1964.
As críticas nas histórias fizeram sucesso. Quino transformou Mafalda em símbolo da insatisfação política argentina. Com a sua publicação cada vez mais ampla, a personagem se tornou um ícone de contestação social. Os quadrinhos, agora não mais comerciais, acabaram sendo publicados em jornais do mundo todo. Mais tarde, os livros e revistas com as histórias de Mafalda foram traduzidos para mais de 30 idiomas.
A personagem também virou protagonista de um filme, produzido na Argentina e lançado em 1982.
Além da garotinha, os quadrinhos também tornaram célebres personagens como Manolito, Susanita, Guille, Felipe, Liberdade e Burocracia.
Com seus personagens, Quino marcou o humor gráfico argentino e tornou-se referência no mundo. Viva Quino!
Traduzimos 11 frases de Malfalda, entre as registradas no jornal Página 12:
Parem o mundo, que eu quero descer!
Dançamos, rapaziada! Acontece que se a gente não se apressa a mudar o mundo, depois é o mundo que muda a gente.
Não seria maravilhoso o mundo se as bibliotecas fossem mais importantes que os bancos?
O ruim da grande família humana é que todos querem ser o pai.
Não é verdade que todo tempo passado foi melhor. O que acontecia era que os que estavam pior ainda não tinham se dado conta.
O problema das mentes fechadas é que sempre têm a boca aberta.
O problema é que há mais gente interessada que gente interessante.
O ideal seria ter o coração na cabeça e o cérebro no peito. Assim pensaríamos com amor e amaríamos com sabedoria.
Não será que neste mundo há cada vez mais gente e menos pessoas?
O ruim dos meios de comunicação em massa é que não nos deixam tempo para comunicar-nos conosco.
Como sempre: o urgente não deixa tempo para o importante.
Não seria mais progressista perguntar onde vamos seguir, em vez de onde vamos parar?