O Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DoJ) apresentou acusações federais de crime de ódio e de sequestro contra os três homens brancos que assassinaram na Geórgia em fevereiro de 2020 o corredor afro-americano Ahmaud Arbery, de 25 anos quando este se exercitava correndo, como fazia há anos, no bairro de Satilla Shores, no condado de Glynn. Crime amplamente denunciado pelo movimento Vidas Negras Importam, entidades de direitos humanos e líderes pelas liberdades civis.
O advogado de direitos civis Ben Crump, que representa a família de Arbery [e é advogado da família de George Floyd], saudou o ajuizamento de acusações federais como “um marco importante na marcha árdua da América em direção à justiça racial, e aplaudimos o Departamento de Justiça por tratar este ato hediondo pelo que ele é – um puro mal, crime de ódio com motivação racial.”
Os supremacistas brancos Travis McMichael, seu pai Gregory McMichael e William “Roddie” Bryan já são réus em tribunal estadual pelo assassinato de Ahmaud, que estava desarmado e foi morto com um tiro de espingarda depois de perseguido. Além da imputação por homicídio doloso – quando há a intenção de matar -, a acusação inclui “agressão agravada, prisão falsa e tentativa criminosa de cometer um crime”.
Logo após a prisão dos três, o pai de Ahmaud, Marcus Arbery tinha chamado o crime de “linchamento”. “Sempre que alguém pula na traseira de uma caminhonete com pistolas e rifles para perseguir um jovem, segue este jovem e abate este jovem como aconteceu, isto é linchamento”, afirmou.
ATAQUE RACISTA
Agora, isso está estabelecido sob a acusação federal: trata-se de um crime de ódio, por racismo, com os três acusados de ‘interferência nos direitos civis e sequestro’, e os Michaels ‘por uso de arma de fogo’ ao cometer o crime.
Em junho do ano passado, uma testemunha relatou que, segundos após matar Ahmaud com um tiro a queima roupa, Travis McMichael proferiu um insulto racista (“f*** nigger”).
Vizinhos testemunharam que viram Arbery treinar corrida durante anos, sem qualquer problema. Durante meses, sob a hashtag “IRunWithMaud” (‘Eu corro com Maud’), no país inteiro se exigiu justiça. Entre os que se pronunciaram publicamente sobre o assassinato, o astro do basquete LeBron James.
Um crime torpe. Os McMichael perseguiram Ahmaud sob o pretexto de que estivera ‘roubando um canteiro de obras’ e de que teria havido na área ‘uma série de roubos’.
O que foi negado pelo próprio proprietário do local, que relatou que apenas houvera ‘invasão’, não apenas Ahmaud, mas ainda um homem, uma mulher e duas crianças pequenas. Não havia registros na polícia de roubos na área.
Inicialmente, a polícia disse à mãe de Ahmaud que o filho estava ‘envolvido em um roubo’ e deixou os assassinos livres depois de entrevistá-los brevemente e sem apresentar queixa.
Eles só foram presos dois meses depois, na véspera do dia em que Ahmaud completaria 26 anos, quando um vídeo mostrando o assassinato já causava indignação nas redes sociais e tornara inviável manter o acobertamento.
A primeira procuradora do caso, Jackie Johnson, se declarou impedida porque um dos acusados, Gregory McMichael, tinha acabado de se aposentar como investigador a serviço dela na promotoria distrital de Brunswick.
Semans depois, o caso foi para as mãos do promotor de um condado próximo, George Barnhill, que enviou uma carta à polícia dizendo que os McMichael teriam agido ao amparo de uma lei da Geórgia que autoriza cidadãos comuns a prenderem pessoas ao testemunharem crimes e que teriam agido em legítima defesa.
Barnhill acabou desmoralizado e tendo de se afastar do caso, após a mãe de Ahmaud, Wanda Cooper, ter revelado que o filho do promotor Barnhill trabalhava junto com a primeira promotora, Jackie Johnson, e com a repercussão do vídeo de Bryan mostrando exatamente como se tinha dado a caçada covarde e gratuita ao jovem negro e sua execução pelos racistas.
O Departamento de Justiça dos EUA também anunciou a intenção de começar a adotar contra esse tipo de criminoso as leis federais que punem crimes de ódio.
Os próximos a serem imputados serão os quatro policiais que assassinaram George Floyd em Minneapolis em maio do ano passado. Além da incriminação pelo assassinato de Floyd, Chauvin será imputado pela brutalização de um adolescente de 14 anos em 2017, durante uma prisão relacionada a um embate doméstico.
Imagens da câmera corporal mostram Chauvin sem palavras espancando o menino repetidamente com sua lanterna depois que ele se recusou a sair do chão, sufocando-o até ficar inconsciente e, em seguida, batendo com o joelho nas costas do menino por vários minutos, ignorando os apelos do menino de que ele não conseguia respirar.