O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) enviou na segunda-feira (22) um ofício ao presidente Jair Bolsonaro (PL) pedindo informações sobre os custos totais envolvidos na vinda do coração de Dom Pedro I ao Brasil.
“Sem prejuízo da relevância das comemorações solenes ao bicentenário da independência, é preciso mais que nunca sinalizar sobriedade e comedimento nos gastos públicos, seja pelo estado de penúria econômica generalizada que o país atravessa […], seja pelo risco de abuso da máquina pública que ronda o uso político desta solenidade para fins de promoção pessoal em pleno calendário eleitoral”, afirma o texto.
Randolfe pediu que uma resposta seja emitida em até cinco dias úteis, sob pena “do ajuizamento de ação cautelar de exibição de tais documentos no âmbito da Justiça Federal”.
O coração do imperador foi trazido ao Brasil para as comemorações dos 200 anos da Independência e retornará para Portugal em 8 de setembro. Ele chegou a Brasília na manhã desta segunda-feira (22).
É a primeira vez que a relíquia deixa o país europeu em 187 anos. O órgão está imerso em um vaso de vidro cheio de formol, que o tem conservado desde 1834.
Porém, o empréstimo do coração de Dom Pedro 1º para as comemorações da independência está envolto em controvérsias.
Além do receio de uso político, há também preocupações envolvendo os custos referentes ao traslado e guarda do órgão.
O cerimonial de recepção da relíquia é suntuoso e ela ficará exposta durante sua permanência no país em uma sala especial no Palácio do Itamaraty, em Brasília. Mas o custo desse aparato, todo pago com dinheiro dos cofres públicos brasileiros, permanece um enigma.
Os despojos do corpo de D. Pedro se encontram sepultados desde 1972 na Cripta do Monumento à Independência, no Museu do Ipiranga, em São Paulo.
Segundo Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, cidade portuguesa que abriga o coração, D. Pedro manifestou o desejo, horas antes de morrer, de que seu coração fosse entregue à cidade “como prova de reconhecimento pelos devotados sacrifícios que os portugueses haviam feito. Ficou decidido que este importante tesouro da cidade ficaria depositado na Capela Mor da Igreja da Lapa, em um sarcófago protegido por cinco chaves”.
De acordo com o professor João Cláudio Pitillo, historiador e pesquisador do Núcleo das Américas na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), ouvido pelo site Sputnik Brasil, para fazer esse transporte e manter o coração de Dom Pedro I por aqui, o Brasil teve que pagar um seguro a fim de garantir a preservação da víscera (e uma indenização no caso de qualquer tipo de avaria).
“O coração fica trancado em uma espécie de cofre com cinco chaves, e uma delas só o prefeito tem acesso. Historiadores portugueses são contra trazer o órgão para cá. É quase um amuleto, além do fato de o coração ser um órgão delicado. Como nunca saiu de lá, não se tem ideia de qual será a dinâmica. É preciso um seguro para isso, não divulgaram o valor do seguro, não se tinha ideia de como iria ser feita a avaliação para precificar isso”, apontou, acrescentando que os custos sairão “muito caros” para o Erário.
Segundo o site, o Itamaraty não quis informar o valor do custo envolvido no traslado do coração.