Um jornalista do Congresso em Foco passou a sofrer ameaças de morte depois que produziu uma reportagem sobre a organização, pela internet, dos bolsonaristas para produzir fake news visando a campanha eleitoral.
A reportagem de Lucas Neiva, intitulada “Fórum anônimo organiza tática para produção de fake news pró-Bolsonaro”, foi publicada no sábado (4) e mostra a articulação anônima de bolsonaristas, através de fóruns, para produção de fake news.
No mesmo dia, no fórum 1500chan havia uma mensagem dizendo: “Parece que alguém vai amanhecer morto”. Outra pessoa, também de forma anônima falou: “eu ri do jornalista esfaqueado em Brasília e queria que acontecesse mais”.
Os bolsonaristas discutiam se deveriam “acabar com a vida dele”, “assassinar a reputação” do jornalista ou ignorar a reportagem. As ameaças chegaram até mesmo à editora do Congresso em Foco Insider, Vanessa Lippelt. “A canalhice da extrema-direita não tem fim. Me ameaçaram de estupro no 1500chan e vazaram meus dados pessoais”, denunciou Vanessa.
Lucas Neiva demonstrou que o fórum 1500chan está sendo utilizado para a articulação dos apoiadores de Jair Bolsonaro para financiar, produzir e distribuir fake news.
O jornalista apontou que “o anúncio [em uma postagem] vem acompanhado de instruções para fazer com que o conteúdo viralize, bem como do endereço de uma carteira de bitcoin para quem quiser doar para a campanha de fake news e uma orientação clara: o criador não precisa acreditar no que diz”.
A postagem, feita por um perfil que usa o ministro da Propaganda de Adolf Hitler, Joseph Goebbels, diz que pagará pela produção de imagens e vídeos sobre “feminismo, ideologia de gênero, culto à entidades demoníacas, escândalos como pizzagate” e “denúncias especificamente sobre alguém”.
O usuário falou que pagaria a produção de fake news em bitcoins e usando recursos próprios. Apesar disso, pede doações para continuar financiando a campanha virtual de Bolsonaro.
A produção organizada de fake news é investigada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em inquérito relatado pelo ministro Alexandre de Moraes. Segundo ele, “nós estamos chegando aos financiadores”.
Jair Bolsonaro é um dos investigados pelo inquérito por ter divulgado, em uma transmissão ao vivo, mentiras sobre as urnas eletrônicas, acusando, sem apresentar nenhuma prova, as eleições de 2014 e 2018 de terem sido fraudadas.
Alexandre de Moraes disse que “houve toda uma estruturação nas redes sociais”. “Uma estruturação para atacar os três grandes pilares do Estado Democrático de Direito. Os ataques são à liberdade de imprensa, eleições livres e periódicas e à independência do Poder Judiciário”.
As eleições de 2018 foram marcadas pela presença maciça de fake news contra candidatos de esquerda ou antibolsonaristas.
Uma das figuras mais visadas foi a ex-deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), que era candidata a vice-presidente na chapa com Fernando Haddad (PT).
Fotos de Manuela foram adulteradas para passar mensagens falsas e enganar os eleitores. A ex-deputada já venceu diversas ações na Justiça que moveu contra perfis que compartilharam mentiras, com o cantor de axé Netinho, que apoia Jair Bolsonaro.
Netinho publicou em suas redes sociais, durante as eleições, que Manuela D’Ávila teria dito que o aborto deveria ser legalizado porque essa seria a única forma das mulheres não criarem filho de “vagabundo”. O bolsonarista foi condenado a pagar indenização.
Nas eleições de 2020, quando se candidatou a prefeita de Porto Alegre, Manuela conseguiu que fossem derrubadas mais de 530 mil compartilhamentos de fake news que circulavam na internet contra ela.
APOIOS
O jornalista recebeu o apoio de vários parlamentares. O deputado federal Fábio Trad (PSD-MS) afirmou que vai levar o caso do jornalista Lucas Neiva ao MPF (Ministério Público Federal), Polícia Federal e também à Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal.
O deputado declarou que a questão “merece ampla investigação”.
Trad afirmou, ainda, ao Congresso em Foco, que são “graves e hediondas as ameaças sofridas pelo jornalista do Congresso em Foco Lucas Neiva”. “Vou requerer à Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal a adoção de providências urgentes porque o jornalismo brasileiro não pode ficar a mercê de delinquentes covardes que manipulam fatos e se escondem no anonimato para mentir impunemente”, disse.
O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) afirmou que “os caras montam um grupo voltado a cometer crimes eleitorais, são descobertos e aí partem para o crime comum mesmo”.
O deputado Marcelo Freixo, pré-candiato a governador do Rio de Janeiro pelo PSB, prestou sua solidariedade. “Minha solidariedade ao jornalista Lucas Neiva, do Congresso em Foco, que está sendo ameaçado após revelar um esquema de produção de fake news a favor de Bolsonaro. O MPF tem que identificar os bandidos que fizeram a ameaça e quem os financia. Vamos vencer a mentira e o ódio”, escreveu Freixo.
Por sua vez, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) questionou: “O que esperar de um bando de criminosos, milicianos e corruptos?”. “O Lucas Neiva descobriu e divulgou um grande esquema de fake News pró-Boldonaro e, por isso, recebeu ameaças de morte. São uns bandidos que têm que sair da Presidência direto pra CADEIA!”, completou.