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Cúpula da legenda atua agora para contornar racha provocado por parlamentares que não desejam se vincular à impopularidade do presidente da República
Ligado à Iurd (Igreja Universal do Reino de Deus), comandada pelo bispo Edir Macedo, o partido Republicanos não deve garantir apoio à campanha de reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL).
A cúpula da legenda atua agora para contornar racha provocado por parlamentares que não desejam se vincular à impopularidade do chefe do Executivo.
Uma ala quer ficar ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), principalmente no Nordeste, enquanto outra se move em direção ao ex-juiz Sergio Moro (Podemos). Diante do impasse, ganha força a opção pela chamada “neutralidade” na disputa presidencial, ao menos no 1º turno.
Na prática, não deverá haver neutralidade alguma. Uma banda vai para a campanha de Lula e outra vai de Moro, caso a candidatura ganhe expressão e volume.
Mais do que bancada de apoio ao governo no Congresso, o Republicanos faz parte do primeiro escalão da gestão de Bolsonaro. Além do ministro da Cidadania, deputado federal licenciado pela Bahia, João Roma, o partido do Centrão também emplacou seus integrantes em outros cargos, como na presidência da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e em diretoria do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação).
COM PÉ EM VÁRIAS CANOAS
O Republicanos abriga o vereador Carlos Bolsonaro (RJ), filho do presidente, e chegou a ter em seus quadros o senador Flávio Bolsonaro (RJ), hoje no PL.
O próprio presidente disse que poderia se filiar ao partido, antes de se decidir pelo PL, de Valdemar Costa Neto. Desistiu da ideia, porém, ao saber que não teria controle sobre a legenda, dirigida pelo deputado Marcos Pereira (SP), ex-ministro da Indústria e Comércio Exterior e bispo licenciado da Universal.
Sob a gestão de Pereira, o Republicanos registrou crescimento da bancada na Câmara. Em um período de 16 anos, o partido saltou de 1 para 30 deputados federais eleitos. A meta, agora, é ultrapassar a casa dos 40.
O comando do partido não se entusiasma nem mesmo com candidaturas estimuladas pelo Palácio do Planalto, como a de João Roma ao governo da Bahia. Nos bastidores, a avaliação interna é a de que o desgaste da imagem de Bolsonaro pode prejudicar esses palanques.
VISITA DE APROXIMAÇÃO
Em busca de adesões, Moro esteve, nesta terça-feira (1º), na sede do Republicanos, em São José do Rio Preto (SP).
Na semana passada, a presidente do Podemos, deputada federal Renata Abreu (SP), também se reuniu com Marcos Pereira, em São Paulo.
Ouviu que, neste momento, o partido ainda tem dificuldade em declarar apoio. Mesmo assim, o consultor Guto Ferreira, ex-presidente da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), ligado ao Republicanos, foi “liberado” para se integrar à campanha do ex-juiz.
PARTIDO NO NORDESTE
No Nordeste também há resistência à aliança com Bolsonaro e diretórios do partido admitem acordo com Lula. Em Pernambuco, o Republicanos é chefiado pelo deputado Silvio Costa Filho, que apoia o governador Paulo Câmara (PSB), opositor de Bolsonaro.
Costa Filho tem feito críticas ao governo. No mês passado, elogiou as articulações para uma dobradinha entre Lula e o ex-governador Geraldo Alckmin. “Essa unidade representa o sentimento de muitos que sonham com um país mais justo e mais solidário”, disse.
Sobre a tendência do Republicanos se declarar “neutro” para liberar os diretórios na campanha, Marcos Pereira disse que o assunto somente será resolvido mais adiante. “Nada está decidido ainda”, disse.
“DESPRESTÍGIO”
Desde que Bolsonaro se filiou ao PL, em novembro, deputados do Republicanos têm se queixado de desprestígio. Na avaliação desse grupo, o Progressistas do ministro da Casa Civil, senador licenciado Ciro Nogueira (PI), e o PL ganharam mais holofotes no governo.
A isso se juntaram queixas sobre a omissão do governo durante a crise pela qual passou a Universal em Angola, no ano passado, quando pastores da igreja foram deportados do país africano acusados de evasão de dívidas.
RECLAMAÇÕES
A aliança de Bolsonaro com o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, também desperta reclamações.
“O Republicanos foi o primeiro partido a ter ministério no governo e conta com espaços até na Educação. Não tem do que reclamar”, afirmou o deputado federal Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), amigo de Malafaia.
A Assembleia de Deus foi uma das igrejas que mais atuaram no apoio a André Mendonça para ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).
M.V.