Na madrugada deste domingo subiu para nove o número de mortos no desabamento de dois prédios na comunidade da Muzema, no Itanhangá, zona oeste do Rio de Janeiro. Os corpos de um menino e uma mulher foram retirados do local. Há ainda ao menos 12 pessoas desaparecidas. A região é controlada por milícias e os prédios foram construídos e comercializados pelos criminosos.
Entre as 2h e 3h da madrugada, foram encontrados os corpos de um homem e uma mulher, ainda não identificados.
Mais cedo, por volta de 23h de sexta-feira, os bombeiros resgataram com vida o adolescente Hilton Guilherme Sodré de Souza, de 12 anos. Ele tinha fratura em uma das pernas e ferimentos no rosto, mas estava consciente e foi levado para o Hospital Miguel Couto, na Gávea. Ele morreu nesta manhã no hospital para onde foi socorrido.
Os pais dele, Hilton Berto Rodrigues Souza e Maria de Nazaré Sá Sodré, estão entre os desaparecidos.
O trabalho do Corpo de Bombeiros já entra pelo segundo dia consecutivo na região para tentar encontrar ao menos 13 pessoas desaparecidas. À noite, familiares fizeram uma corrente de oração pelas buscas dos Bombeiros.
Além das sete mortes confirmadas, outras 10 pessoas foram resgatadas com vida. Um dos óbitos foi de Cláudio Rodrigues, 41 anos, que estava em estado gravíssimo e morreu no Hospital Unimed-Barra. Ele teve quatro costelas quebradas, quatro paradas cardíacas e água no pulmão.
A esposa e a filha de Cláudio, Adilma e Clara Rodrigues, de 35 e 8 anos, respectivamente, também foram soterradas no desabamento. Clara está internada com o quadro de saúde estável no mesmo hospital para onde o pai foi levado e já recebeu alta. Já Adilma está grave no Hospital Lourenço Jorge, ainda na Barra.
MILICIANOS CONTROLAM A REGIÃO
A comunidade da Muzema, onde ficam os dois prédios que desabaram na manhã desta sexta-feira, 12, era controlada pelo grupo miliciano liderado pelo major da Polícia Militar Ronald Alves Pereira e pelo ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) Adriano Magalhães da Nóbrega.
Os dois são apontados como chefes do “Escritório do Crime”, grupo armado apontado que realizou o assassinato da vereadora Marielle Franco, em março do ano passado. De acordo com a polícia, o executor de Marille, Ronnie Lessa, atuava em conjunto com os chefes da milícia. Ele foi preso em sua mansão no condomínio “Vivendas da Barra”, o mesmo residencial onde mora Jair Bolsonaro.
Ronald Pereira foi preso em janeiro, na ‘Operação Intocáveis’, do Ministério Público e da Polícia Civil. Já Adriano Nóbrega conseguiu escapar e segue foragido. Eles foram denunciados por grilagem e exploração imobiliária ilegal nas comunidades de Rio das Pedras e Muzema.
Adriano da Nóbrega trabalhou no 18º Batalhão da PM com Fabrício Queiroz, o ex-assessor de gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) investigado por lavagem de dinheiro. A mãe e a filha de Nóbrega trabalhavam no gabinete do filho do presidente.
De acordo como Ministério Público, Nóbrega dirigia o esquema de construção civil ilegal nessas comunidades. Pereira, por sua vez, foi denunciado por comandar negócios ilegais da milícia, entre eles, grilagem de terra e agiotagem.
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