Sete escolas do Grupo Especial abriram os desfiles do carnaval 2023 de São Paulo na última sexta-feira (17), no Sambódromo do Anhembi, na Zona Norte da capital.
Marcado por enredos pela igualdade racial e contra a intolerância religiosa, o primeiro dia de desfiles das escolas de samba do Grupo Especial do Carnaval de São Paulo teve arquibancadas lotadas, mesmo com o clima instável, e apresentações sem problemas de cumprimento do tempo nem penalidades.
Rosas de Ouro, Acadêmicos do Tatuapé e Gaviões da Fiel levantaram as arquibancadas do Anhembi e arrancaram muitos aplausos do público. Independente Tricolor, Barroca Zona Sul, Unidos de Vila Maria e Tom Maior também desfilaram entre a noite desta sexta à manhã deste sábado (18).
A Acadêmicos do Tatuapé escolheu a cidade de Paraty, do litoral sul fluminense, para ser o tema central do seu enredo. A escola mostrou a chegada dos portugueses, o domínio sobre os indígenas e apresentou os diferentes ciclos econômicos, como ouro, cana de açúcar e café, que fizeram parte da história do município, cuja arquitetura colonial que ainda pode ser vista em igrejas e casarões também foi representada no Anhembi.
Com fantasias volumosas e coloridas, a agremiação parecia ter costurado um tapete sobre a avenida. Cores vivas, como verde da flora e azul dos mares, também se destacaram no desfile da escola, que teve a abertura de sua apresentação conduzida pela cantora, compositora, sambista e deputada estadual por São Paulo, Leci Brandão (PCdoB), madrinha da escola.
ROSAS DE OURO
Já a Rosas de Ouro trouxe um enredo focado nas injustiças raciais, no combate ao racismo e, principalmente, à valorização da África e das influências do continente na biografia do Brasil. O desfile recebeu o nome de “Kindala! Que o amanhã não seja só um ontem com um novo nome”.
A potência do tema também foi explorada nas fantasias e nas alegorias, carregadas de referências à resistência ao racismo e à herança escravocrata e de como o País se construiu com elementos da cultura africana, sobretudo religiosos, culinários e artísticos.
A última alegoria, uma homenagem ao bairro de origem da escola, a Brasilândia, foi dedicada a personalidades negras influentes em diferentes espaços. Pelé, Glória Maria, Mano Brown, Elza Soares, Gilberto Gil, Lewis Hamilton, Emicida, Aleijadinho, Machado de Assis, Silvio de Almeida, entre outros, tiveram seus rostos estampados e foram alguns dos homenageados.
Sete vezes campeã do Grupo Especial, a Rosas de Ouro também mostrou força nas arquibancadas. Após a apresentação, a escola foi bastante aplaudida pelos foliões que assistiam ao espetáculo.
GAVIÕES
Já a Gaviões da Fiel entrou na avenida com muito apoio das arquibancadas. Mesmo com o céu claro e uma chuva fraca que voltou a cair no começo da manhã, os foliões ignoraram o cansaço, se levantaram e receberam a escola com muitas bandeiras e fumaça.
Com representantes de diferentes vertentes religiosas, a Gaviões apresentou na comissão de frente aquele que foi o seu enredo escolhido para o desfile: tolerância religiosa.
“Enfim a nossa terra prometida/ Na paz eu vi o povo se amar/ Nessa terra que é de amém e de axé/ Na verdade de Irmã Dulce / E de Chico Xavier”, diz um dos trechos do samba-enredo da escola “Em Nome do Pai, Dos Filhos, Dos Espíritos e Dos Santos… Amém”.
A Independente Tricolor construiu o seu desfile sob o enredo Samba no pé, lança na mão, isso é uma Ilusão, que usa a Guerra de Tróia para fazer uma associação com as vitórias e as conquistas dos territórios.
A Barroca Zona Sul, levou para a avenida o enredo Guaicurus, tribo indígena da região do Pantanal. Debaixo de uma forte chuva, a agremiação fez uma apresentação que levantou a discussão sobre a proteção dos direitos dos povos originários e a necessidade de preservação da natureza e dos recursos naturais.
A escola também dedicou parte do seu desfile para homenagear o educador e antropólogo Darcy Ribeiro, defensor das causas indígenas e autor de uma vasta produção bibliográfica sobre a cultura brasileira e sobre os povos originários.
Já a Unidos de Vila Maria escolheu a história da própria escola para servir de enredo no seu desfile, o quarto da noite.
A apresentação da agremiação, fundada em 1954 e com sede no bairro Jardim Japão (localizado no distrito que dá nome à escola de samba), se sustentou sobre quatro pilares: a origem, a essência, a história e os feitos da escola para além das atividades carnavalescas.
Com um desfile carregado de cores vibrantes e alegorias caprichadas em referência a entidades e religiões de matriz africana, a Tom Maior se apresentou também. A agremiação desfilou com o enredo “Um culto às mães pretas ancentrais”, e mostrou ao público que, tal como as mães, a África também simboliza o nascimento, a concepção da vida humana, a origem de tudo.
Neste sábado, desfilam Estrela do Terceiro Milênio, Acadêmicos do Tucuruvi, Mancha Verde, Império de Casa Verde, Mocidade Alegre, Águia de Ouro e Dragões da Real.