“As Forças Armadas pertencem ao Estado, e não ao governo”, assinalou
O general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo, afirmou que “intervenção das Forças Armadas não tem cabimento no Brasil de hoje. É coisa que só passa na cabeça de uma minoria”.
“As Forças Armadas pertencem ao Estado, e não ao governo”, pontuou.
Em entrevista ao jornal Valor Econômico, Santos Cruz questionou os constantes apelos de Jair Bolsonaro às Forças Armadas. “Para quê? Se já recebeu 58 milhões de votos das urnas, agora é só governar”.
Para o general, Bolsonaro tem se apoiado em um grupo de extremistas “bandidinhos, vagabundos com acesso a seu gabinete”. Esse grupo é conhecido como “gabinete do ódio”, que produz fake news e difama os adversários políticos de Jair Bolsonaro.
“Medíocres, escória. Acham que podem manipular a opinião pública, enchem a paciência da população. Não vai colar, a população não tem essa motivação ideológica e vai responder nas urnas”.
“Um líder político inconsequente acarreta danos enormes a seu país”, ressalta Santos Cruz.
O militar aponta incoerência em Bolsonaro nos tempos da campanha e suas posições atuais. “Na campanha, criminalizou as negociações políticas, agora elogia. Em 2018, era contra a reeleição, hoje parece que tudo é feito com o olho em 2022.”
Santos Cruz comentou a saída do ex-juiz Sérgio Moro do governo Bolsonaro, onde era ministro da Justiça. “Ele era um ícone, uma esperança de que era possível vencer os corruptos. Em um ano colocou quase uma centena de empresários, políticos, poderosos, na cadeia. Os seguidos desacertos entre presidente e seus ministros causam balbúrdia, uma má impressão na população”.
“A corrupção é o pior dos crimes, porque incentiva os outros crimes”, disse Santos Cruz. O governo Bolsonaro, disse, não tem feito o suficiente para combatê-la.
Quando anunciou sua demissão, Sérgio Moro acusou Bolsonaro de estar tentando interferir politicamente na Polícia Federal ao pedir a troca do diretor-geral e do superintendente do Rio de Janeiro.
A gravação da reunião ministerial do dia 22 de abril mostrou Bolsonaro dizendo: “Pô, eu tenho a PF que não me dá informações. Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final!”.
No fim das contas, Bolsonaro trocou o superintendente do Rio, o diretor-geral e o ministro da Justiça.
O general Santos Cruz criticou a atuação do governo no combate à pandemia de coronavírus. “Ideologizaram o vírus, botaram uma coloração vermelha que seria da China, ideologizaram até um medicamento”. Esses extremismos “não levam a lugar nenhum”, disse.
Eduardo Bolsonaro e o ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, difamaram abertamente a China de terem causado a pandemia de coronavírus para se beneficiarem economicamente.
“+1 vez uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas que salvaria inúmeras vidas. […] A culpa é da China e liberdade seria a solução”, escreveu Eduardo em seu Twitter.
Também pelas redes sociais, Weintraub fez as acusações usando conotações racistas. Em depoimento à PF, entregue por escrito, disse que a participação do governo chinês “na pandemia não é mera ilação”. “Hoje há fortíssimas evidências que o vírus foi criado em laboratório”.
O ministro não apresentou nenhuma evidência, muito menos provas do que disse. Nenhuma entidade internacional sustenta a tese bolsonarista.
O general diz que o Brasil poderia ter aproveitado melhor as lições de outros países que enfrentaram a pandemia antes de nós. Contudo, para o militar, “falta recuperar a credibilidade, a liderança, dar o bom exemplo, não adianta só reclamar”.