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Espanha e Polônia também se manifestaram contra a aventura do aprendiz de Napoleão
O primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, e o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, fizeram questão de mostrar distância do arroubo, no início da semana, feito pelo presidente francês, Emmanuel Macron, sobre o envio de tropas para a Ucrânia – onde a Otan trava uma guerra de procuração contra a Rússia, diante do crescente colapso do regime vassalo em Kiev.
Foi Scholz o mais enfático, dizendo que a Otan “não é e não se tornará parte no conflito. Não queremos que a guerra da Rússia com a Ucrânia se transforme em uma guerra entre a Rússia e a Otan. Estamos unidos a todos os nossos aliados nisso. Isso também significa: nenhum envolvimento alemão na guerra! E posso dizer sem rodeios, como primeiro-ministro, que não enviarei soldados das forças armadas alemãs para a Ucrânia!”.
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, correu a assegurar que “não há planos para tropas de combate da Otan no solo na Ucrânia”.
Também Washington se pronunciou novamente contra o envio de tropas através do porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, em resposta a uma pergunta de um correspondente da Sputnik.
“Em nome dos Estados Unidos, o presidente [Joe Biden] deixou claro que não haverá presença militar americana em solo”, afirmou o porta-voz, não sem antes dizer que “as outras nações decidirão o que desejam fazer”. Como se na Otan as ordens não viessem direto da Casa Branca.
Outros vassalos europeus acharam oportuno deixar o candidato a napoleão de opereta – ex-Júpiter, como é ironicamente chamado pelos franceses – falando sozinho, como a Espanha, Polônia, Suécia e Finlândia.
Na terça-feira (27), o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, advertiu que se as tropas forem enviadas, “teremos que falar não sobre a probabilidade, mas sobre a inevitabilidade de um confronto direto entre a Rússia e a Otan”.
Para ele, os opositores à proposta mostram uma “avaliação sóbria” sobre os riscos de ter forças da Otan na Ucrânia. Isso –ele acrescentou – seria “absolutamente contra os interesses dessas nações” e dos seus povos.
LONDRES CHIA DA INDISCRIÇÃO DE SCHOLZ
Aliás, Scholz se mostrou realmente preocupado, a ponto de Londres reclamar de um comentário seu. É que, ao dizer que a Alemanha não iria enviar para o regime de Kiev os seus mísseis de longo alcance Taurus, ele implicitamente deixou passar que Londres e Paris estavam mantendo homens no terreno na Ucrânia para darem “assistência” na operação dos mísseis entregues.
O ex-presidente do Comitê de Defesa Britânico, Tobias Ellwood, disse ao jornal The Telegraph que a declaração de Scholz era “um flagrante uso indevido de informações de inteligência, intencionalmente concebido para desviar a atenção da hesitação da Alemanha em armar a Ucrânia com o seu próprio sistema de mísseis de longo alcance.”
Um “especialista em defesa” dos democrata-cristãos alemães, Norbert Röttgen, chamou de “completamente irresponsável” a declaração de Scholz sobre “o alegado envolvimento da França e da Grã-Bretanha no uso de mísseis de cruzeiro de longo alcance implantados na Ucrânia”.
Scholz afirmou que o seu país não forneceria a Kiev mísseis Taurus – o equivalente alemão do Storm Shadow britânico – porque isso exigiria a presença de militares alemães na Ucrânia. Como justificação, ele se referiu às ações da Grã-Bretanha e da França nesta questão, dizendo que se Berlim seguisse o exemplo de Londres e Paris, se tornaria “parte no conflito”.
Apesar de todos os desmentidos, o recém eleito primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, alertou que alguns países da Otan estão, sim, cogitando, com base em acordos bilaterais com Kiev, o envio de seus militares para a Ucrânia.
Fico descreveu a reunião de Paris: “Tudo o que querem é que a matança continue. Reinava em Paris uma atmosfera puramente a favor da guerra. Não houve uma palavra sobre paz, o que pessoalmente lamento”, ele acrescentou.
FRANCESES REPELEM “ESCALADA VERBAL BELICOSA”
O arroubo de Macron foi recebido, na França, pelo rechaço de praticamente toda a oposição, de Jean-Luc Mélenchon a Marine Le Pen.
O ex-candidato a presidente pelo partido A França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, chamou de “loucura” as declarações de Macron. “Enviar tropas à Ucrânia nos tornaria cobeligerantes (…) Esta escalada verbal belicosa de uma potência nuclear contra outra grande potência nuclear é um ato irresponsável”, advertiu Mélenchon.
“É chegada a hora de negociar a paz na Ucrânia com cláusulas de segurança mútua”, ele acrescentou.
A líder da Reunião Nacional, Marine Le Pen, acusou Macron de fazer cena como “chefe de guerra, mas é da vida dos nossos filhos que ele fala com tanto descuido. É a paz ou a guerra em nosso país que está em jogo”.
“Entrar em guerra com a Rússia e arrastar o continente, loucura”, se manifestou o líder do Partido Socialista, Olivier Faure, defensor do apoio à Ucrânia. Ele se mostrou perplexo com Macron por dizer, numa conferência de imprensa, “estar possivelmente pronto para envolver a França como uma nação co-beligerante nesta guerra”.
“Macron está levando a França e a Europa a uma escalada de guerra terrivelmente perigosa! A França deve agir pela paz, certamente não soprar sobre as brasas da guerra”, afirmou Fabien Roussel, secretário nacional do PC francês.
Para Eric Ciotti, líder dos ex-gaullistas de Os Republicanos (LR), a fala de Macron está “carregada de consequências terríveis” e questionou se foi realmente “bem pensada”.
DE PETÁIN A MACRON
Na coletiva de imprensa que se seguiu à cúpula em que a União Europeu debateu o que fazer diante do fiasco na Ucrânia, Macron reconheceu que “atualmente não há consenso para enviar tropas terrestres de forma oficial, assumida e endossada”. Mas – insistiu – “dinamicamente, nada deve ser descartado. Faremos tudo o que for necessário para garantir que a Rússia não possa vencer esta guerra”.
Ao seu estilo ferino, a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, repeliu o arroubo de Macron. No Telegram, ela postou que Macron estaria cogitando “recriar a divisão francesa da SS ‘Carlos Magno II’ para defender o bunker do presidente Volodymyr Zelensky”. Ela destacou que “um dos últimos defensores do Reichstag, da Chancelaria do Reich e do bunker de Adolf Hitler” eram soldados daquela divisão em particular.