O secretário de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Weipe Tapeba, defendeu o que chamou de uma “operação de guerra”, as ações de assistência emergencial necessárias para o povo Yanomami, em Roraima.
Segundo ele, “aeronaves partindo, aeronaves chegando com pacientes com malária, infecções agudas, outras doenças”, disse. Mas também ressaltou que a capacidade é limitada, ”porém “temos que conseguir mitigar esse cenário desolador”, defendeu nesta terça-feira (24).
A base a que ele se refere está situada em Boa Vista, de onde as ações estão sendo coordenadas. Na base, atua uma força nacional do SUS, que está recrutando médicos e outros profissionais de enfermagem. Um hospital de campanha está sendo erguido no local. Mas diante da crise emergencial, há a necessidade de criação de um hospital de campanha também em Surucucu, na Terra Indígena Yanomami (TI Yanomami).
Em entrevista à CBN, Ele definiu o polo de Surucucu como “um campo de concentração”. “O estado brasileiro foi ineficiente nesse local, fez um corte daquele povo”, reiterou. Ele acrescentou ainda que o cenário local é “de guerra, desolador”.
O secretário estima em 30 mil a população yanomami e em 20 mil os garimpeiros, mas os números, nos dois casos, podem estar subnotificados, bem como o de indígenas mortos. De acordo com o Ministério dos Povos Indígenas, 570 crianças yanomamis, com menos de 4 anos de idade, morreram, em decorrência de doenças como malária e por outras causas tratáveis, segundo as estatísticas.
“O estado brasileiro virou as costas para o povo Yanomami. Não teve a condição de assegurar a segurança dos povos indígenas, cujo território foi totalmente invadido pelos garimpeiros. Nem proteção territorial e algumas comunidades estão dominadas”, criticou.
“Ao sobrevoar comunidades, visualizamos invasores armados. Entendemos que essas ações emergenciais são para salvar vidas, mas é urgente a remoção de garimpeiros, que invadiram aquele local”, defendeu.
“Mais de 1.000 indígenas foram resgatados nos últimos dias em território Yanomami, em Roraima. Segundo o secretário, os principais problemas de saúde identificados são desnutrição e malária, consequência da presença criminosa do garimpo nas terras yanomamis.
AÇÃO DE GARIMPEIROS IMPEDE CHEGADA DE EQUIPES
Em alguns espaços, conforme divulgado pela imprensa – e reiterado pelo secretário, a ação de garimpeiros é tão intensa que impede a chegada de equipes do Governo Federal. Com isso, “o estado brasileiro só consegue chegar com o apoio das Forças Armadas em alguns lugares’. No total, seriam mais de 20 mil garimpeiros na região, que precisam ser expulsos com urgência.
Ricardo Weibe Tapeba afirmou ainda que um relatório está sendo feito pelo Ministério dos Povos Originários, através da Secretaria, para ser encaminhado ao Ministério da Saúde para explicar como está a situação e buscar respostas, além de um “acompanhamento especializado” de “cada indígena”. “Algumas ações precisam ser realizadas com urgência e emergência, mas ainda não conseguimos chegar em muitos territórios”, justificou.
Tapeba disse também que o governo Lula colocou a estrutura do Estado com ações de saúde a serviço do atendimento emergencial, bem como as Forças Armadas, que em têm atuado com recursos humanos, transporte de alimentos, entre outras ações. Na segunda-feira (23), uma aeronave, decolou da Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, com destino à Base Aérea de Boa Vista, transportando 19 toneladas de cargas que foram distribuídas na região de Surucucu.
Na última sexta-feira (20), o Ministério da Saúde decretou estado de emergência em Roraima devido à catástrofe sanitária que assola às populações yanomamis. Já nesta segunda-feira (23), o ministro da Justiça, Flávio Dino, determinou que a PF (Polícia Federal) investigue a suposta prática de crimes de genocídio, omissão de socorro e de crime ambiental contra esses povos por parte de agentes públicos, o que inclui o ex-presidente Jair Bolsonaro. Hoje (25), a PF instaurou inquérito para apurar as responsabilidades.
Entre os focos da investigação, o órgão vai averiguar se houve omissão de servidores e atuação dos financiadores e facilitadores do garimpo ilegal na região. As investigações ficarão à cargo da superintendência da PF em Roraima.