Os servidores do Banco Central aprovaram em assembleia virtual, realizada na tarde desta terça-feira (10), a continuidade da greve por tempo indeterminado. De acordo com o Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal), a intensificação do movimento reivindicatório se dá após meses de tentativas frustradas de estabelecer uma agenda de negociações com o governo Bolsonaro.
A decisão foi aprovada por 85% dos votos porque o governo não abriu mesa de negociação nem apresentou proposta oficial de reajuste. A greve havia sido suspensa entre os dias 20 de abril e 2 de maio como forma de demonstrar a abertura da categoria em estabelecer uma mesa de negociações com o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto. Porém, mesmo com a boa fé dos servidores, Campos Neto decidiu por não negociar.
A categoria reivindica reajuste salarial de 27% (para repor a inflação entre 2017 e 2022) e a reestruturação de carreiras (que segundo o sindicato não tem impacto fiscal).
“A greve tem adesão majoritária e vai continuar a afetar o Relatório Focus, a divulgação da ptax [taxa de câmbio], a assinatura de processos de autorização no sistema financeiro, a realização de eventos e reuniões com o sistema financeiro e outras atividades”, afirmou o presidente do Sinal, Fábio Faiad.
Os servidores também desmentiram Bolsonaro que, em live na última semana, afirmou que o Pix foi uma criação de seu governo. “É importante ressaltar que o início do projeto do Pix é bem anterior ao mandato do atual presidente da República”, afirma nota do sindicato dos servidores. “A portaria do Banco Central n. 97.909, que instituiu o grupo de trabalho para desenvolver uma ferramenta interbancária de pagamento instantâneo, foi publicada em 3 de maio de 2018, muito antes da eleição do atual governo”, disse o Sinal.
Na avaliação do sindicato, Bolsonaro tentou pegar carona na aprovação do Pix para uso eleitoral. O sindicato voltou a dizer que o Pix não vai ser interrompido, pois “é uma criação dos servidores do BC em prol da sociedade brasileira”, e emitiu nota para “repudiar o uso eleitoral do Pix”. “Tal sistema de pagamento instantâneo foi criado e implementado pelos analistas e técnicos do Banco Central do Brasil — ou seja, por servidores concursados de estado, não pelo atual governante ou por qualquer outro governo”.
Faiad defendeu que os servidores servem ao Estado, ao povo, e não ao governo do momento. “Servidores de Estado – não de governo – trabalharam noite e fins de semana para lançar a plataforma, em meio a uma crise sanitária. Independentemente do governante de plantão, são trabalhadores concursados que desenvolvem projetos. […] o BC é blindado de interferências políticas. Independente dos presidentes da República e do BC, o Pix seria aprovado por sua qualidade técnica”, disse Faiad.