Em assembleia na terça-feira (21), em Brasília, os trabalhadores da Dataprev (Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência) decidiram iniciar greve da categoria a partir do dia 22 em diversas capitais. Os funcionários do Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados) também vão aderir à greve. As duas empresas juntas têm cerca de 13 mil servidores.
As unidades do Dataprev do Rio Grande do Sul, Pará e Maranhão já estão paradas.
Até o final de semana, os trabalhadores do Distrito Federal, Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba e Pernambuco também vão cruzar os braços.
Até sexta-feira, já estão marcadas assembleias com indicativo de greve no Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Espírito Santo, Minas Gerais e Rio Grande do Norte.
A paralisação é contra as demissões e fechamento de 20 unidades da Dataprev, e contra a privatização da Dataprev e do Serpro anunciada pelo governo na semana passada.
A Dataprev e o Serpro possuem, juntas, dados de toda a população brasileira, desde o processamento dos benefícios previdenciários, seguro-desemprego e Receita Federal até informações sobre emissão de passaportes e carteiras de motoristas, controle sobre programas sociais como o Bolsa Família, os registros sobre veículos roubados, além de informações da Agência Brasileira de Inteligência, do sistema de comércio exterior e movimentações de portos e aeroportos nacionais, entre outros.
As duas estatais são estratégicas e lucrativas, consideradas de excelência em Tecnologia da Informação (TI) pública no Brasil e no mundo, e premiadas entre as melhores do país em 2019 pela revista Exame. São essas empresas que o governo quer entregar à iniciativa privada, a fundos de investimentos e empresas de tecnologia da informação nacionais e estrangeiras, as maiores interessadas em adquiri-las.
“Esse movimento é contra as 493 demissões das 20 regionais e contra a privatização da Dataprev, mas também contra a privatização do Serpro, onde também estão sendo marcadas assembleias com o mesmo objetivo”, explica o diretor de divulgação do Sindpd-DF e da Fenadados, Eudes Rodrigues da Silva.
Sobre a crise que se instalou no INSS, com o atraso em cerca de 2 milhões de processos de benefícios e aposentadorias, o sindicalista argumenta que os problemas enfrentados pela população revelam a falta de gestão do governo que “aprovou uma reforma da previdência sem agilizar a adaptação dos programas responsáveis pela liberação desses recursos”.
“Não fizeram o processo de atualização dos programas com as novas regras dos benefícios e aposentadorias”, explica.
Segundo o presidente do Sindicato dos Empregados em Empresas de Processamentos de Dados da Paraíba (Sindpd-PB), Ademir Diniz, o desmonte da Dataprev já está em curso, com as demissões, por meio do plano de “desligamento voluntário” proposto pelo governo para o fechamento das 20 unidades regionais.
“Um programa de desligamento voluntário foi imposto aos servidores. Quem não aderir será demitido. Na Paraíba, pelo menos por enquanto, não haverá esse fechamento, mas já sabemos que existe a possibilidade sim de desmonte e privatização. Estamos em solidariedade com toda a corrente que se fortalece em todo o país contra esse ataque sem precedentes que impactará ainda mais a vida da população”, disse.
Para Ademir Diniz, com o desmonte dessas empresas e a privatização, “estaremos retrocedendo décadas, quando filas gigantescas eram enfrentadas por quem precisava receber seus direitos previdenciários e outros benefícios. Todo esse colapso que estamos enfrentando é motivado pelo despreparo desse atual governo que aprovou uma reforma da previdência, antes mesmo de preparar as máquinas”.
“O governo quer contratar militares, quando possui um quadro qualificado e concursado com mão de obra disponível. Ele quer demitir em massa profissionais de alta formação para contratar militares sem nenhuma formação. A população tem que estar atenta ao que está sendo feito com o patrimônio que é dela. Iremos lutar e denunciar esse desmonte das empresas públicas”, disse.