Os sindicalistas do Movimento Brasil Metalúrgico (MBM) reuniram-se na manhã de sexta-feira (1) para definir ações conjuntas para defender os trabalhadores das fábricas da General Motors (GM), que estão sob ameaça de fechamento, corte nos salários e perda de direitos.
As lideranças sindicais aprovaram a convocação de mobilizações dos trabalhadores das diferentes fábricas da GM e a convocação de ato unitário em defesa dos direitos dos Trabalhadores e da previdência social, no próximo dia 20.
Participaram da reunião ampliada do movimento, sindicatos de metalúrgicos de diversas regiões, das centrais sindicais, federações e sindicatos de diversas categorias da cadeia produtiva automotora de todo o país, como químicos, vidreiros, borracheiros, comerciários e trabalhadores das indústrias de material plástico.
Os trabalhadores destas categorias também serão afetados caso a GM consiga colocar em prática seu plano de reduzir salários, direitos e precarizar ainda mais as condições de trabalho.
“Essa grave ameaça da GM afeta toda cadeia produtiva de automóveis. Por isso, o Brasil Metalúrgico organiza hoje essa reunião ampliada”, afirmou Miguel Torres, vice-presidente da Força Sindical, durante a abertura da reunião.
O encontro teve também a participação de representantes de sindicatos internacionais que sofrem igualmente com as chantagens da GM em seus países de origem, como o sindicato Canadense Unifor, a UAW, dos EUA e o IndustriALL Global Union, que participaram por videoconferência.
Para os sindicalistas, o que a GM está tentando fazer é “colocar em prática tudo que foi aprovado pela reforma trabalhista. Depois da eleição de Bolsonaro, sabíamos que poderiam acontecer chantagens como essa”, disse Sérgio Luiz Leite (Serginho), presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado de São Paulo.
Segundo o Mancha, presidente da CSP- Conlutas, “o que interessa a GM é aumentar seus lucros, sendo assim, fechou suas fábricas na Rússia e na África para explorar mercados com mão de obra mais barata. Vão fechar fábricas que acharem que são menos lucrativas, em detrimento dos trabalhadores”.
“Precisamos demonstrar resistência nas ruas, nas fábricas e construir uma paralisação nacional para defender os direitos do povo”, disse Ubiraci Dantas de Oliveira (Bira), presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB).
“A lógica da GM é a lógica da ganância do imperialismo. Querem a produção de seus superlucros em detrimento dos trabalhadores e dos interesses nacionais. São esses interesses que nortearam a reforma trabalhista, que acabaram com o Ministério do Trabalho e agora querem acabar com a Justiça do Trabalho. A GM, não contente com isso, ainda quer esfolar ainda mais seus trabalhadores reduzindo seus salários e se possível, de quebra, aumentar a jornada de trabalho e exigir mais isenções de impostos aos governos”, completou Bira.
Os sindicalistas afirmam que a montadora faz chantagem ao ameaçar deixar a América Latina, caso não volte a ter lucros. Segundo eles, além disso, ao pressionar pela retirada de direitos, a multinacional atua como ponta de lança da implementação da reforma trabalhista no Brasil.
“A GM faz chantagem e também cria factoides com o objetivo de atuar já nas negociações coletivas. Estão se aproveitando de um momento de fragilidade da categoria para desmontar as conquistas trabalhistas”, disse Márcio Ferreira, presidente do Sindicato dos Borracheiros de São Paulo.
Kristyne Peter, da UAW, disse que “a General Motors está tentando fazer terrorismo psicológico contra os trabalhadores. Tudo isso para aumentar seus lucros que já são milionários. Porém, quando a empresa estava falindo, em 2008, recebeu do governo dos EUA mais de US$ 51 bilhões, dinheiro que pertencia ao contribuinte, pertencia ao trabalhador. Agora estão nos abandonando após usar nosso dinheiro para se salvar. Eles ficam se pautando pelos interesses da bolsa de valores, mas deveriam se preocupar mesmo com aqueles que os salvaram 10 anos atrás, os trabalhadores”.
“Segundo pesquisa da UAW, 30% da produção da GM é feita no exterior. Maior parte disso é produzido no México, onde os trabalhadores recebem de 1 a 3 dólares por hora. Fica difícil para o Brasil e para os EUA igualarem o valor da mão de obra com o México”, completou Kristyne.
Negociação com Dória/Meirelles
Em São Paulo, a GM negocia com o governo João Dória com o objetivo de conseguir isenções fiscais a curto prazo do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que significariam um montante de aproximadamente R$ 400 milhões. O responsável pela articulação é Henrique Meirelles, Secretário Estadual da Fazenda e do Planejamento do governo de São Paulo, ex-ministro de Temer, que no ano passado aprovou uma Medida Provisória que concedia isenções fiscais ao setor automotivo (MP: 843 – Programa Rota 2030).
Segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o estado de São Paulo recolhe, anualmente, cerca de R$7 bilhões do setor automotivo. O que tudo indica, caso as negociações sejam efetivadas, é que as demais empresas do setor chamarão o Meirelles em busca de isenções.
RODRIGO LUCAS