
“Pela pressão de juros, e alavancagem maior, é mais fácil uma revisão de investimentos, ou venda de ativos de lojas próprias”, declarou Belmiro Gomes, presidente da empresa
As condições financeiras de um grande número de empresas do varejo estão difíceis diante da escalada dos juros e da inadimplência das famílias. O atacarejo Assaí anunciou que vai pôr um pé no freio nos investimentos e estuda a venda de ativos, como as lojas da empresa, “para fazer frente ao aumento do custo da dívida”, segundo o presidente da companhia, Belmiro Gomes.
“Pela pressão de juros, e alavancagem maior, é mais fácil uma revisão de investimentos, ou venda de ativos de lojas próprias”, declarou Belmiro Gomes, por teleconferência na terça-feira (4).
O atacarejo Assaí vendeu ações para fortalecer seu caixa. A companhia, em meados de março, levantou R$ 4,1 bilhões com a venda de ações do Casino, grupo francês controlador da empresa. Foi uma necessidade de levantar capital para fazer frente a compromissos junto a credores.
Como outras empresas do setor, também em dificuldades, há o temor de que a crise se espalhe. Algumas delas entraram com pedido de recuperação financeira, Raiola, centenária no ramo de conservas, por exemplo. Outras, cuja reestruturação de dívidas ganharam evidências, como Lojas Marisa, Tok Stock, Casas Bahia, ou mesmo a indústria de alimentos PAN, também centenária, que pediu sua autofalência.
A raiz comum entre todas elas, assim reconhecida pelos seus porta-vozes, são as taxas de juros insuportáveis, a dificuldade de obter crédito e a queda no consumo das famílias, derivado na queda na renda, na inflação, em especial, de alimentos e combustíveis, desemprego na casa dos 9 milhões de trabalhadores, dívidas e alta inadimplência, entre outras dificuldades.
A taxa Selic, taxa básica de juros da economia, que funciona como maestra das demais, aquela que Campos Neto, presidente do Banco Central (BC) insiste em manter em 13,75% a.a., tem apertado as empresas e ameaça o país com uma grave recessão.
As mais sufocadas pelos juros altos também começam a colocar na mesa a possibilidade de usar o mercado de ações para levantar dinheiro e ajustar os seus balanços. Além das taxas elevadas, as alternativas de crédito estão minguadas, num movimento agravado pelo caso da Americanas.
As Lojas Americanas entraram também com Recuperação Judicial (RJ), mas é uma situação diferente. Elas foram conduzidas a RJ devido a operações fraudulentas. Os juros e outras adversidade atuais, apenas aceleraram o estouro do esquema corrupto.
Há ainda empresas, também em grave situação financeira ou mesmo se antecipando a uma possível deterioração mais grave dos seus negócios e das suas finanças, que estão buscando engenharias financeiras menos comuns. Não escondem, mesmo assim, o fenômeno dos dias de hoje, que arrasta crescentemente empresas para o terreno movediço da pré-insolvência.