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Em novembro deste ano, a taxa média de juros cobrada pelos bancos nos empréstimos chegou a 44,1%, o maior patamar de juros desde agosto de 2017, quando a taxa era de 45,6%, de acordo com dados do Banco Central (BC), divulgados na última terça-feira (27).
A taxa é 10,4 pontos percentuais (p.p) maior do que foi registrado em novembro de 2021, de 33,7% ao ano.
Para as famílias, a taxa média de juros foi de 59% ao ano, um avanço de 14,6 p.p. frente ao registrado em novembro do ano passado. A taxa também é o maior custo de juros para pessoas físicas desde agosto de 2017.
Em novembro ainda, a taxa média de juro do rotativo do cartão de crédito ficou em 392,6% ao ano e a taxa do parcelado do cartão ficou em 180,6%. Já a linha de crédito do cheque especial ficou em 135,5% ao ano e a do crédito pessoal em 44,5% ao ano.
Os dados referem-se aos juros cobrados dos recursos livres e não incluem aqueles dos setores habitacional, rural e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Para as empresas, a taxa média de juros ficou em 23,4% ao ano em novembro, um avanço de 3,3 p.p. em relação ao mesmo mês de 2021.
Esse resultado é fruto da ação do Banco Central que, com o apoio do governo Bolsonaro, elevou a taxa básica de juros da economia (Selic) de 2% ao ano em março de 2021 para os atuais 13,75% ao ano, fazendo com que o Brasil seja o maior pagador de juros reais do mundo.
Com os juros nas alturas, em novembro, a taxa de inadimplência das pessoas físicas, que leva em conta as dívidas com mais de 90 dias de atraso, ficou em 5,9%. Já entre as pessoas jurídicas está em 2,2% – o maior indicador desde maio de 2020, ainda durante a pandemia, quando a inadimplência alcançou 2,4%.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a Selic com a justificativa de combater a inflação no Brasil. No entanto, a medida foi ineficaz para resolver o problema, pois a inflação brasileira não tem relação com “excesso de demanda”, mais sim pelos aumentos nos custos dos preços internos de energia, como combustíveis, por exemplo, e de algumas commodities produzidas no país que são atrelados aos preços do mercado internacional.
Os juros altos só aumentaram os problemas da economia brasileira, como destacou o economista André Lara Resende, em seu recente artigo, “Os Juros, outra vez!”, publicado no Valor Econômico do último dia 26.
O economista aponta que “a inflação de hoje, provavelmente em toda parte, mas com certeza no Brasil, não é de demanda. É fruto da desorganização da produção durante a pandemia e da alta dos preços de energia devido ao conflito na Ucrânia. Por isso, a inflação aqui cedeu com a redução dos impostos sobre os derivados de petróleo, não por causa da alta dos juros básicos. Esta é uma afirmação passível de ser contestada, dado que não há como comprovar causalidade, mas o Banco Central começou a subir os juros há dois anos e a inflação só deu sinais de arrefecimento com a desoneração fiscal de 2022”.
“Como observou uma matéria do “The Economist”, uma revista conservadora e expoente da ortodoxia econômica, na edição de final de outubro de 2022, o grupo de países que mais agressivamente subiram as taxas de juros depois da pandemia foram Brasil, Chile, Hungria, Nova Zelândia, Noruega, Coreia do Sul, Peru e Polônia, que a revista chamou de “Hikelandia”, terra dos altistas, numa tradução livre, tiveram um desaquecimento da economia em relação aos demais países. Já a inflação média continuou teimosamente alta, elevou-se 3.5 pontos de percentagem desde março de 2022. Ao contrário do que se poderia prever, a diferença entre a inflação do grupo dos altistas e a dos demais países parece ter aumentado, não diminuído”, escreveu Lara Resende, que foi presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.
Resende lembrou também que “o Brasil tem hoje a taxa básica de juros real mais alta do mundo. Com a Selic de 13.75% e uma inflação anual de 5,9%, o juro real básico é de quase 7,5%. Não apenas é a mais alta taxa real do mundo, como é mais do dobro da do segundo colocado neste triste concurso, o Chile. Para efeito de comparação, a taxa de inflação nos EUA é superior a 9% ao ano, mas a taxa básica só agora se aproxima de 4% ao ano. A taxa real ainda é, assim, altamente negativa”.
“O mesmo vale para a Europa, a Inglaterra e o Japão, todos com taxas básicas reais negativas. No mundo, hoje, só o Brasil garante aos rentistas uma taxa real perto de 8% ao ano sem risco e com liquidez imediata. Sem risco, sim, pois a dívida pública de um país com moeda fiduciária e um Estado institucionalizado não tem risco de crédito. Pode ter risco político, mas não tem risco de crédito”, observou Lara Resende.