O ministro da Saúde do governo Bolsonaro, Eduardo Pazuello, mostrou de fato seus dotes logísticos que o qualificam ao cargo. Um dia depois de receber as 4,5 milhões de doses da CoronaVac do Instituto Butantan, ele anunciou que anteciparia o início da vacinação para esta segunda-feira (18). No entanto, se esqueceu de garantir a entrega das vacinas aos estados para que a imunização fosse concretizada.
Mais cedo, em entrevista coletiva, Pazuello atribuiu os atrasos a uma repentina mudança de “estratégia de logística”. A palavra, que parece perseguir o ministro, é usada em qualquer ocasião. Desde turbinar o seu curriculum – que foi vendido por Bolsonaro como o seu especialista na área, até a justificar a sua incompetência, seja na compra das vacinas, das agulhas, das seringas, ou do oxigênio para atender os pacientes dos hospitais de Manaus.
Alguns estados devem receber as primeiras doses da CoronaVac durante a madrugada e outros estão sem nenhuma previsão.
Para piorar a situação, muitos governadores não foram informados das mudanças feitas pelo Ministério. O governador de Sergipe já estava até no aeroporto esperando as doses, hoje pela manhã, mas com o atraso, a vacinação começará apenas na terça-feira.
“Todo mundo foi esperar no aeroporto, e nada. A previsão era meio-dia, depois mudou para 16h. Agora já deve ser 18h. Até que descarregue, não tem como iniciar hoje. Impossível. Só devo começar amanhã”, disse o governador de Sergipe, Belivaldo Chagas.
“Não explicaram nada. Simplesmente avisaram em cima da hora. Problema de logística. Eu não fui a Guarulhos [para o evento com Pazuello]. Mas se tivesse ido, teria voltado e a vacina ainda não teria chegado”, completou.
Helder Barbalho, governador do Pará, que sentou à esquerda de Pazuello durante a cerimônia de entrega das vacinas, ficou revoltado com a falta de prática do ministro na distribuição dos imunizantes. Helder qualificou o episódio como inaceitável.
Além do Pará, até as 20 horas desta segunda-feira, ainda não receberam as doses da CoronaVac Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Amapá, Maranhão, Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Sergipe, Bahia, Rio Grande do Sul e Mato Grosso.
RIO DE JANEIRO
O caso do Rio de Janeiro beira o ridículo. O estado fica a menos de uma hora de voo de São Paulo, onde estavam as vacinas, no centro de distribuição do Ministério da Saúde em Guarulhos, mas na tabelinha de Pazuello as doses só chegariam na madrugada de terça-feira.
Mais cedo, o governador em exercício do RJ, Claudio Castro (PSC), esteve em São Paulo com o ministro da Saúde. Em Guarulhos, junto com demais governadores, ele posou para fotos com caixas que supostamente viriam para o estado, cobertas com a bandeira fluminense — e anunciou que a vacinação seria iniciada às 17h, aos pés do Cristo Redentor.
Castro retornou de SP às 12h50 sem vacinas. A coletiva no Santos Dumont, convocada pelo governo estadual, foi cancelada, e o governo precisou se articular com um voo fretado para conseguir trazer ao menos parte das doses e manter a cerimônia no Cristo.
Do Aeroporto, as doses da CoronaVac foram levadas de helicóptero para o Palácio Guanabara, de onde algumas doses foram transportadas para o Cristo Redentor.