Governador paulista afirmou que governo Bolsonaro faz “golpe de morte” contra os brasileiros
Ao comemorar a aplicação da primeira dose da CoronaVac em uma brasileira fora dos estudos clínicos, neste domingo (17), o governador de São Paulo, João Doria, destacou que a CoronaVac é a única vacina que o Brasil tem neste momento e criticou o governo Bolsonaro que faz “um golpe de morte” contra o país.
“Golpe de morte é o que dá Jair Bolsonaro e a incompetência do seu governo”.
“Hoje é o dia V. É o dia da vacina, é o dia da verdade, é o dia da vitória, é o dia da vida”, comemorou Doria, ao lado da enfermeira Mônica Calazans, primeira pessoa a ser vacinada no país, durante a entrevista coletiva concedida neste domingo, logo após a aprovação do uso emergencial da CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan com a chinesa Sinovac.
“É o triunfo da vida contra os negacionistas, contra aqueles que preferem o cheiro da morte, ao invés do valor e da alegria da vida”, disse Doria.
O governador chamou a vacinação de uma vitória da democracia e dedicou o avanço às mais de 209 mil vítimas do coronavírus no Brasil e aos mais de 8,4 milhões de pessoas que se infectaram com a doença.
“Quero dedicar esse dia aos familiares das 209 mil pessoas que foram a óbito durante a pandemia, as mais de oito milhões de pessoas que foram vítimas desta doença e de seus familiares. Aos mais de 13 mil profissionais de saúde dos estados brasileiros que participaram dos testes da última fase, dando um exemplo heroico de desprendimento para salvar vidas. Eles são heróis cujo trabalho é salvar vidas, dar esperanças e garantir, se possível, a vida e a existência. A coragem desses quase 13 mil funcionários vai ajudar a salvar a vida de muitos brasileiros a partir de agora”, afirmou Doria.
O governador também fez questão de homenagear os profissionais de saúde que trabalham nas frentes dos hospitais, como médicos e enfermeiras, e também aos pesquisadores que trabalharam no desenvolvimento da CoronaVac.
“A vacina vai ajudar a evitar cenas dramáticas e trágicas como o Brasil e o mundo viram em Manaus. Cenas que chocaram a opinião pública mundial”, frisou o governador, acrescentando que o dia de hoje é um dia de homenagem para aquelas que valorizam a vida. “Ao contrário daqueles que, nos últimos 11 meses, flertaram com a morte”, emendou.
Durante o seu pronunciamento, Doria subiu o tom contra Bolsonaro e seu comportamento durante a pandemia: “E daí?, disse um brasileiro. Pressa para quê, disse outro brasileiro. Toma cloroquina que passa, disse um líder do país. A vacina é uma lição para vocês, autoritários que desprezam a vida, que não têm compaixão, que desprezam a atenção, a dedicação e a necessidade de proteger brasileiros. Você não fizeram isso”, disse em referência às falas de Bolsonaro e do seu ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, nos últimos meses.
CLOROQUINA MATA
O governador ainda pediu para que o governo Bolsonaro pare de recomendar cloroquina, que não tem eficácia comprovada para a população. “Eu espero que o comportamento do Ministério da Saúde seja pela vida e peço também que pare de distribuir e recomendar o uso da cloroquina. É criminoso fazer crer a população, sobretudo a mais desvalida, mais simples e mais humilde, que a cloroquina salva. A cloroquina não salva e em alguns casos cloroquina mata”, disse.
Em seu discurso, ele também agradeceu ao Instituto Butantan. “Quero registrar um agradecimento à saúde, ao Instituto Butantan que está a tantos anos lutando. Queria fazer uma homenagem a Dimas Covas e aos diretores do Butantan. É um triunfo da ciência contra os negacionistas, aqueles que preferem o cheiro da morte, ao invés do valor da vida. Hoje foi uma vitória da vida. Que sirva de lição para os negacionistas, para os que não tem amor no coração, para os que se distanciam da realidade de um país que sofre com a morte. São homens e mulheres que enfrentaram negacionistas para dar valor a vida. Dedicamos a você anônimo que soube defender a vacina, a vida, o distanciamento, a utilização do álcool em gel, e soube atender os pedidos da ciência e da medicina”, afirmou.
Doria elogiou o corpo técnico da Anvisa, dizendo que eles cumpriram seus deveres e obrigações e mostraram a autonomia de um órgão regulador. “Resistiram às pressões. A ciência falou mais alto do que o autoritarismo”.
De acordo com Doria, as primeiras doses da CoronaVac serão enviadas rapidamente em caminhões para o Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos (SP) a fim de atender a demanda do governo. “Esperamos que o Ministério da Saúde atue de forma diligente e atenda, especialmente, aos profissionais de saúde, que estão na linha de frente e padecem ante a inércia do governo federal”, afirmou.
O Ministério da Saúde receberá 4,6 milhões de doses para encaminhá-las a outros estados enquanto 1,3 milhão de doses serão distribuídas em São Paulo.
Enquanto a coletiva era realizada, mais de 100 profissionais de saúde de São Paulo foram vacinados no Hospital das Clínicas da USP. Segundo o governo paulista, já, nesta segunda (18), começa o plano logístico das vacinas que cabem ao Estado. “A vacinação deve começar imediatamente. Cada dia conta, cada vida também”, afirmou o governador. Segundo ele, na sequência, profissionais de saúde de Ribeirão Preto e Campinas também receberão a Coronavac.
Ele ressaltou que o governo de São Paulo colocará em prática o plano logístico para “vacinas que lhe cabem”. “Vamos começar com o Hospital das Clínicas de São Paulo, de Campinas, Ribeirão Preto e Marília. Na sequência, os demais hospitais públicos e privados”, disse.
“Hoje é um dia de esperança, de renascimento, de buscar mais forças para prosseguimos. A chegada da vacina não nos livra do uso da máscara, da necessidade do isolamento social e da necessidade de não aglomerar”, continuou.
GOLPE DE MORTE
Durante a coletiva, João Doria, respondeu ao ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que concedeu uma coletiva em paralelo para dizer que houve apoio e recursos federais no desenvolvimento da Coronavac. O governador foi categórico e chamou o ministro de mentiroso, afirmando que, até agora, o governo federal não contribuiu financeiramente com o desenvolvimento da CoronaVac.
“Pazuello mente, foi investimento do governo do Estado de São Paulo. Não teve um centavo do governo federal. Chega de mentira, ministro, trabalhe para a saúde do seu povo, seja honesto, seja decente, aprenda aquilo que na escola militar o senhor aprendeu. Se o senhor não conhece medicina, o Plano Nacional de Imunização, pelo menos respeite o corpo técnico do seu Ministério e respeite a verdade”, continuou.
“O governo federal, há 11 meses, faz golpes de morte para os brasileiros, com falta de seringa e de agulhas e frases lamentáveis, como ‘e daí?’, ‘tome clororquina’”, disse Doria.
Ao final da coletiva, João Doria informou que o governo paulista continuará a apoiar o Amazonas, que passa por alta significativa no número de casos do coronavírus e permanece com o sistema de saúde está sobrecarregado. Ele anunciou o envio de doses da CoronaVac diretamente para Manaus, pois “não se pode confiar no governo Bolsonaro”.
“É inacreditável o que estamos vivendo no Brasil. Pois, amanhã de manhã, um avião levará 50 mil doses da vacina independentemente da cota do Ministério da Saúde para os profissionais de saúde do Amazonas”, declarou Doria.
Veja a coletiva concedida após o início da vacinação: