Entidades empresariais apontam a redução do auxílio emergencial, desemprego e salário baixo como as causas da queda, além da pandemia
No segundo ano do governo Bolsonaro, o varejo teve o pior desempenho nas vendas de Natal desde a crise de 2015/2016, quando a recessão fez o setor encolher cerca de 7% no Natal.
Dados do Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA) divulgados nesta terça-feira (29) apontam que houve queda de 1,8% nas vendas em lojas físicas e no comércio eletrônico no período de 19 a 25 de dezembro, em relação ao mesmo intervalo de 2019.
A queda nas vendas em shoppings neste Natal foi de 12%, na comparação com o ano anterior, segundo dados da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), baseados no ICVA.
Para os Lojistas, além das novas medidas restritivas, que estão sendo adotadas pelos governos estaduais e municipais novamente para reduzir os casos de Covid-19, que voltaram a subir em suas localidades, o corte feito pelo governo no valor do auxílio emergencial, que passou de R$ 600 para R$ 300, a partir de setembro, e a não renovação do benefício para o próximo ano pesaram nas compras de Natal.
PIOR DEZEMBRO
“É um dos piores dezembros que já tivemos”, disse Tito Bessa Jr, presidente da Associação Brasileira dos Lojistas Satélites (Ablos) e fundador da rede de vestuário TNG.
“Praticamente não tivemos festas de fim de ano, não houve tantas trocas de presentes, e ainda tivemos um abre e fecha de lojas o mês todo em praças importantes, como São Paulo, com as mudanças nas regras de funcionamento. Isso tudo se soma ao efeito da queda pela metade do auxílio emergencial”, afirmou Tito Bessa Jr.
Segundo a entidade, em dezembro, caíram entre 10% e 35% as vendas de produtos de vestuário, calçados, acessórios, itens de perfumaria e ótica, além do setor de serviços. As maiores quedas no setor estão em moda e calçados, entre 25% a 28%, destaca a Ablos, que realizou uma pesquisa com 100 redes do setor.
Em serviços como cabeleireiro, manicure, consertos de produtos, o recuo varia de 30% a 35%. Segundo as projeções da entidade, houve aumento nas vendas em apenas dois segmentos: artigos para o lar, 12% a 15%, e joalheria, 5% a 6%.
No varejo on-line, que equivale a cerca de 10% do varejo total, a alta foi de 15,5% sobre 2019, segundo o ICVA. No entanto, redes e empresas de logística apontaram que a demanda mais forte, que ocorreu entre a segunda e terceira semanas de dezembro, perdeu força após o dia 23.
“Na véspera do Natal, a venda perdeu força e continua num ritmo mais fraco nessa semana”, disse Benhur Cezar, diretor da varejista on-line Estrela 10.
Até agora, o setor de varejo só tem enfrentado vendas magras no governo Bolsonaro. Após o recuo de 6,2% em 2016, o setor demonstrou alguma reação em 2017 (alta de 2%) e em 2018 (alta de 2,3%), mas, com a política econômica do governo de mais arrocho sobre a renda, o ritmo nas vendas desacelerou em 2-19 (alta de 1,8%) e até outubro deste ano (alta de 0,8%).
FECOMERCIO
Para o assessor econômico da FecomercioSP, Altamiro Carvalho, a população começou a compreender que o “coronavoucher” está chegando ao fim e passou a cortar gastos do orçamento. A entidade projeta alta de, no máximo, 1% nas vendas de dezembro.
“Só o auxílio emergencial jogou R$ 197 bilhões no varejo brasileiro em 2020. Mesmo com ele, projetamos queda de 2% no comércio brasileiro em 2020. Sem ele, cairíamos 11%. Mas isso tudo deixa de existir em 2021”, afirma Carvalho.
O governo Bolsonaro não apresentou nenhum plano que possa ajudar o setor e o contingente de 59 milhões de brasileiros que deixarão de receber o auxílio emergencial. Hoje, a Caixa Federal realizou o último depósito do auxílio nas contas digitais dos beneficiários.
Em um ano marcado por uma crise sanitária provocada pelo coronavírus, com o retorno da inflação, queda na atividade do setor produtivo, e com mais de 14,1 milhões de pessoas desempregadas no país, o ministro da Economia, Paulo Guedes, decidiu retomar as férias de fim de ano, que foram canceladas após críticas, e ficará até 8 de janeiro.
Também de férias, Bolsonaro, nesta semana, mais uma vez, demonstrou descaso com a economia e com as vidas das pessoas, ao declarar não ter pressa em vacinar a população, quando já atingimos a trágica marca de 190 mil óbitos pela Covid-19 no País. Ontem, o presidente participou de um jogo de futebol beneficiente na Vila Belmiro, em Santos (SP), como se tudo estivesse em plena normalidade.
ANTONIO ROSA