O coordenador do comitê científico do Consórcio Nordeste, Sergio Machado Rezende, que já foi ministro da Ciência e Tecnologia, afirmou que a vacina Sputnik V “é confiável e eficaz” e a decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de negar a importação do imunizante teve “motivação política”.
“Nós estamos absolutamente convencidos de que a motivação é política”, disse Rezende em entrevista ao UOL.
“E temos duas razões: uma delas é que ela vem da Rússia, e o presidente deve achar que é um país comunista; e o outro é que a iniciativa de comprar essa vacina foi dos governadores do Nordeste, e desde o começo existe esse problema entre o presidente e o Nordeste, onde ele teve uma menor votação que outras regiões”, considerou.
Segundo a Anvisa, a Sputnik V, que já foi aprovada para uso em 62 países, não é segura porque o vetor que utiliza, o adenovírus, é capaz de se replicar no corpo humano. Outras vacinas aprovadas pela Anvisa, como a da Oxford e a da Johnson & Johnson, também utilizam o adenovírus, mas a Agência não afirmou que são replicantes.
“A vacina do laboratório Gamaleya [a Sputnik V] também o utiliza como vetores virais. No caso, usa dois adenovírus cujo papel é criar imunidade nas pessoas. A decisão trouxe uma informação que surpreendeu todos especialistas na área: a de que o adenovírus usado pela Sputnik é replicante, ou seja, ela replicaria nas pessoas, quando o papel do vírus é exatamente o oposto. As pessoas não sabem de onde a Anvisa tirou essa informação”, explicou.
“Essa informação tem de ser esclarecida nos próximos dias. Mas ela tomou a decisão usando, além do argumento técnico de adenovírus replicante, vários outros que não fazem o menor sentido”, continuou.
O diretor do fundo que financiou a Sputnik V, Kirill Dmitriev, afirmou que “nunca encontramos esse vírus replicante”.
Em nota oficial, o Instituto Gamaleya também afirmou que “nenhum adenovírus competente para replicação (RCA) foi encontrado em qualquer um dos lotes de vacina Sputnik V que foram produzidos”.
O Instituto citou o documento do Departamento de Saúde dos Estados Unidos, enviado para o governo Bolsonaro em 2020, no qual pressiona para que a Sputnik V não seja usada na imunização dos brasileiros.
Sergio Machado Rezende disse que o Consórcio Nordeste tem “no comitê científico um subcomitê de vacinas formado por alguns especialistas nessa área. O que eles fizeram foi utilizar as informações disponíveis publicadas por revistas de alto nível e as informações disponíveis oficialmente. Estamos certos que a vacina é confiável e eficaz”.
O coordenador do comitê científico lembrou que nos países em que a vacina já está sendo aplicada não foi identificado nenhum risco às pessoas.
Os países “já publicaram estudos dessa fase 4, que é a utilização em massa da vacina — e já está sendo feita em vários países. Argentina e Hungria fizeram essa análise e ambos comprovaram a efetividade que tinha sido obtida na fase três. Em nenhuma delas houve indicações de reações, como já houve em outras vacinas”.