Depoimento do ex-governador do Rio de Janeiro durou mais de quatro horas, mas ele decidiu sair enquanto ainda havia senadores inscritos para fazer perguntas. Witzel disse conhecer “fatos graves”, e CPI articula sessão reservada, a partir de demanda do vice-presidente do colegiado, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP)
Witzel pediu para se retirar e a reunião da CPI da Covid-19, no Senado, foi encerrada no início da tarde desta quarta-feira (16).
Decisão do ministro Nunes Marques, do STF (Supremo Tribunal Federal), garantiu a Witzel a possibilidade de não comparecer ao depoimento. Caso comparecesse, ele poderia ficar em silêncio e não firmar compromisso de dizer a verdade.
Quando Witzel pediu para sair da reunião, o depoimento dele já durava mais de quatro horas. “Ele acabou de me comunicar que quer se retirar da sessão, e a gente não pode fazer absolutamente nada”, disse o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM).
Ao deixar a Comissão, Witzel agradeceu aos senadores e disse que quer contribuir no futuro.
“Agradeço a oportunidade, agradeço as perguntas, e tenho certeza que muito temos a contribuir futuramente”, disse o ex-governador.
Witzel foi afastado do mandato e depois sofreu impeachment no dia 30 de abril passado. O processo começou em 10 de junho de 2020. Ele ainda é réu em processo que apura corrupção e lavagem de dinheiro. O caso tramita no STJ (Superior Tribunal de Justiça).
A decisão de se retirar da reunião se deu basicamente porque o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) passou toda a reunião hostilizando o ex-governador. E também depois da fala do senador bolsonarista Jorginho Mello (PL-SC), cujas perguntas eram visivelmente para desestabilizar o depoente.
“O senhor recebia mesada de aliados? Pagava pedágio a aliados? Tinha cofre nas residências oficiais no Rio e fora do País para supostamente ocultar recursos financeiros?”, foram algumas das perguntas desferidas pelo senador ao depoente.
SESSÃO RESERVADA
Durante a audiência, senadores sugeriram que fosse realizada nova oitiva com Witzel, dessa vez reservada, caso ele compreendesse que tem “informações sensíveis” a relatar. Vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) apresentou o pedido.
“Acreditamos que o ex-governador ainda tem muito a falar e não podemos deixar o relatório da CPI ser atingido por interferência e intimidações externas”, informou Randolfe.
O ex-governador disse ainda que, em sessão reservada, faz “questão” de apresentar novos elementos, entre esses o rompimento entre ele e a família Bolsonaro. Witzel disse ter conhecimento de “fatos graves”.
ROMPIMENTO COM BOLSONARO
O ex-governador era aliado de Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018. Mas ao longo do mandato entrou em atrito político com o presidente, que se agravou na pandemia. Bolsonaro sempre atacou as medidas de distanciamento social recomendadas pelas autoridades sanitárias e adotadas por governadores para conter o vírus.
Relator da CPI, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) propôs que a oitiva a “portas fechadas” fosse realizada ainda nesta quarta-feira. Witzel, no entanto, pediu prazo maior.
“Eu pediria também para que nós pudéssemos fazer isso em outra oportunidade, até para que eu possa me preparar para trazer elementos, inclusive”, afirmou.
“Até para poder também juridicamente preparar, para saber se daquela sessão de sigilo de Justiça poderão adotar medidas cautelares com apoio do Judiciário. Os fatos são graves”, adicionou.
DEPOIMENTO
No depoimento à CPI, o ex-governador fez ataques ao presidente Jair Bolsonaro. E, como era de se esperar, fez defesa efusiva da conduta dele frente ao governo do Estado do Rio de Janeiro e, em particular, na gestão da pandemia do novo coronavírus.
Ele disse que o governo federal “deixou os governadores à mercê da desgraça que viria” na pandemia e que Bolsonaro criou o discurso de perseguição aos governadores por ser contra as medidas de distanciamento social, as únicas eficazes, depois da imunização, por meio de vacina.
Witzel afirmou também que Bolsonaro não tem diálogo com os governadores e que o auxílio emergencial demorou a começar a ser pago, o que dificultou a adoção de medidas contra o vírus.
CARLOS WIZARD
Está agendado para depor na quinta-feira (18), o bilionário bolsonarista Carlos Wizard, que era um dos conselheiros de Bolsonaro e também fazia ou faz parte do “gabinete paralelo” para assuntos da pandemia.
O depoimento do empresário, que parece não estar no Brasil, está envolto de obscuridades, pois consta que não respondeu à convocação para comparecer à CPI. Interlocutor dele procurou a direção da comissão para saber o que seria perguntado. Algo inusitado. Não se tem conhecimento que esse tipo de coisa já aconteceu em CPI, no Congresso.
Diante de todos esses elementos que envolvem a convocação de Wizard, o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), decidiu que se o empresário não comparecer para depor, ele vai ser convocado e conduzido coercitivamente para prestar os esclarecimentos demandados pelo colegiado.
M. V.