Após a renúncia de Shinzo Abe, líder do partido Liberal Democrata (PLD) que governa o Japão, Yoshihide Suga, até agora chefe de Gabinete e porta-voz do governo, será o próximo primeiro-ministro do país. Tendo vencido as eleições internas do partido, o nome dele terá agora que ser aprovado pela Dieta (parlamento japonês), na quarta-feira (16).
O atual primeiro-ministro, Abe, deixa a liderança do Japão, alegando razões de saúde, ao fim de oito anos no cargo.
Como o partido tem maioria no Parlamento, Suga deve vencer sem problemas a eleição para o cargo de primeiro-ministro.
A votação partidária teve a participação de 535 eleitores: os parlamentares do PLD e os representantes do partido nas 47 prefeituras do Japão. Suga recebeu 377 votos, contra 89 para o ex-ministro das Relações Exteriores Fumio Kishida e 68 para o ex-ministro da Defesa Shigeru Ishiba.
“Vamos construir um Japão que brilhe e supere a crise do coronavírus com Suga como líder”,afirmou Abe.
O próximo chefe de Governo da terceira maior economia do mundo tem graves problemas a enfrentar. O Produto Interno Bruto (PIB) do Japão caiu -7,9% entre abril e junho, em comparação com o primeiro trimestre deste ano, devido aos impactos do Covid-19 e dificuldades para administrar o desafio da recessão decorrente dos fechamentos preventivos.
Junte-se a isso o fato dessa ter sido a terceira queda trimestral consecutiva do PIB. No primeiro trimestre a queda foi de -0,6% e de outubro a dezembro de 2019 já havia sido de -1,9%.
O governo informou ainda, no dia 8, que esta é a queda trimestral mais expressiva do PIB japonês desde o início do registro dos dados comparativos em 1980.
O governo adotou um pacote de medidas de estímulo de 2 trilhões de dólares, que incluem 100.000 ienes (aproximadamente US$ 1000) para cada residente no país, e realizou um programa de afrouxamento monetário pelo seu Banco Central, o que amenizou um pouco o declínio, mas não evitou a derrapagem. O consumo teve diminuição de 8,6% no período.
O adiamento das Olimpíadas 2020 para o próximo ano trouxe mais impactos econômicos negativos para o país, e o evento ainda corre risco de cancelamento. Suga declarou que a recuperação da economia será uma prioridade absoluta, assim como a contenção do vírus, essencial para a celebração dos Jogos Olímpicos de Tóquio.
Completando o quadro negativo, o investimento público registrou contração no primeiro trimestre, mas aumentou ligeiramente em 1,2% entre abril e junho. No setor externo, as exportações caíram 18,5% e as importações 0,5%.
O governo de Tóquio tem procurado atenuar a situação de tensão provocada pelos Estados Unidos com a China, país com que desenvolve boas relações comerciais. “Ao Japão não interessa simplesmente seguir o caminho de Washington e aumentar as tensões com a China”, explicou Makoto Iokibe, professor de História Política e Diplomática na Universidade de Hyogo, sobre a posição que o governo deve tomar.
Yoshihide Suga pode convocar eleições legislativas antecipadas para consolidar sua posição e evitar que seja considerado um primeiro-ministro interino até a celebração das eleições previstas para 2021, quando terminaria o mandato de Abe.