O lucro dos bancos em 2020, considerando todos em operação no país, foi de R$ 88,6 bilhões. O retorno sobre o patrimônio líquido (Return on Equity – ROE) foi de 11,5%, ainda que tido como a menor da séria histórica é exuberante, particularmente quando a economia do país se enterra na recessão, com o Produto Interno Bruto negativo em -4,1%,, com desemprego recorde, empresas fechando e a maior crise sanitária da história.
É um resultado excelente para os seus acionistas, apesar da pandemia que comprometeu o desempenho da economia durante todo ao ano, assim como, relativamente, a maioria dos ramos da indústria e segmentos do comércio e serviços não financeiros que amargam queda acentuada ou mesmo prejuízo em suas operações e lucros.
Em 2019, o lucro dos bancos tinham realizado R$ 119,7 bilhões ou 35,1% a mais que o ano passado. De 2019 para 2020 há um fator que teve forte impacto nesses resultados. A Provisão para Devedores Duvidosos (PDD) em 2020 foi de R$ 111,2 bilhões ou R$ 33,36 bilhões a mais do que os R$ 77,84 bilhões destinados para essa provisão em 2019.
A PDD é um expediente contábil. No fechamento dos balanços, os bancos abateram dos seus lucros uma previsão de perdas com créditos incobráveis, fazendo uma reserva. Em 2020, frente às dificuldades da economia, agravadas pela pandemia, os bancos retiraram dos lucros que obtiveram reservas de R$ 33,36 bilhões a mais do que em 2019.
Se não fizessem essa previsão, poderiam ter atingido um lucro de até R$ 121,96 bilhões em 2020, ou seja, o lucro reconhecido de R$ 88,6 bilhões, somado aos R$33,36 bilhões apartados do lucro como PDD. É feito ao final de cada exercício contábil um ajuste entre a provisão e créditos não mais recebíveis e o mercado já espera aumentos nos lucros em 2021 por conta da reversão de grande parte dessas provisões.
Com a atuante ação de cobrança dos bancos, a inadimplência deles é baixa. O crescimento em torno de 15% da carteira de crédito em 2020 foi principalmente com recursos com garantia do Tesouro Nacional, portanto, com recebimento certo.
Essas reservas, em grande parte, serão revertidas para o resultado do exercício seguinte. Ficam também com a vantagem de postergar o pagamento do imposto de renda dos valores que ficam em reserva.
Outros fatores contribuíram para os significativos lucros dos bancos, as demissões de milhares de funcionários, o fechamento de agências e o menor crescimento das rendas com serviços.
As informações constam no Relatório de Estabilidade Financeira divulgado pelo Banco Central (BC), nesta terça-feira (27). São base também para os cálculos realizados.