Relator da CPI, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) citou os nomes das pessoas apontadas por relacionamento com o “gabinete” para o ministro dizer qual relação possui com cada um deles
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, em seu segundo depoimento à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid-19, no Senado, nesta terça-feira (8), afirmou que desconhece o chamado “gabinete paralelo” de aconselhamento do presidente Jair Bolsonaro. Há fortes indícios que esse “gabinete” orienta de forma macro as ações de Bolsonaro.
O chamado “gabinete das sombras”, tudo indica, foi responsável, sob ordens de Bolsonaro, pela difusão e defesa de fármacos como a cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina, em detrimento da aquisição dos imunizantes para combate efetivo da pandemia da Covid-19.
O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), mostrou vídeo de reunião do “gabinete” e citou o nome das pessoas que aparecem, para o ministro comentar sua relação com eles. “Nunca vi atuando de forma paralela”, alegou Queiroga.
Mesmo assim, o ministro disse já ter conversado com o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho 02 do presidente da República, deputado Osmar Terra (MDB-RS), Carlos Wizard e a oncologista Nise Yamaguchi. “Recebi a Nise uma vez, e ela me entregou um protocolo de cloroquina que era usado em Cuba. E eu recebi, como recebo outras pessoas”.
SEM INFECTOLOGISTA NA EQUIPE
Renan também questionou o ministro sobre o quadro de profissionais de saúde que integram a Saúde. Queiroga confirmou a informação de que não há nenhum médico infectologista. Única infectologista que foi cogitada para o ministério foi a médica Luana Araújo.
“O ministério da Saúde, ao longo do tempo, tem perdido quadros. Nós não temos médicos infectologistas. Temos a doutora Carolina, mas ela é servidora da CGU (Corregedoria Geral da União), não está ali naquela função. O que temos são médicos consultores, que nos apoiam”, afirmou Queiroga. Em seguida, o relator da CPI, Renan Calheiros disse que a informação era de grande gravidade. “Pois é”, concordou o ministro.
A médica Luana Araújo, no depoimento dela à CPI da Covid na semana passada, já havia afirmado que, se tivesse sido efetivada, seria a única infectologista do Ministério da Saúde. Luana Araújo ficou apenas 10 dias na pasta, mas não chegou a ser nomeada, barrada pelo governo.
“TRATAMENTO PRECOCE”
Inquirido mais de uma vez sobre a sua posição acerca do chamado “tratamento precoce” e o uso de cloroquina, Queiroga disse que “não há evidência comprovada da eficácia do medicamento contra a Covid-19”.
Marcelo Queiroga foi questionado também sobre posturas e posicionamento de Jair Bolsonaro na pandemia. Ele disse que não é responsável por isso e que já conversou com o presidente sobre o tema, não tendo efeito.
“Eu sou ministro da Saúde, não censor do presidente da República”, afirmou Queiroga. O senador Renan Calheiro havia questionado se o ministro já havia orientado Bolsonaro sobre a necessidade de usar máscara de proteção contra a Covid-19 e fazer distanciamento social.
“Já conversei com o presidente sobre esse assunto e quando ele está comigo, ele usa máscara na grande maioria das vezes”. Queiroga ainda disse que não iria fazer “juízo de valor” sobre as posturas pessoais e individuais do presidente.
EFICIENTE CAMPANHA DE VACINAÇÃO
Marcelo Queiroga deu início a seu depoimento defendendo a vacina, as medidas de proteção, como uso de máscaras e o distanciamento social.
“No primeiro momento em que estive aqui, eu tinha a dizer basicamente sobre projetos e compromissos. Agora, cerca de 60 dias como ministro da Saúde, já posso mostrar alguns resultados”.
“Eu acredito fortemente que o caráter pandêmico dessa doença só será cessado com uma eficiente campanha de vacinação. Por isso, todos os dias, trabalho no ministério para prover mais doses de vacinas”, destacou o ministro.
M. V.