Um barco pesqueiro com 539 imigrantes a bordo foi encontrado à deriva e prestes a transbordar próximo a costa da Itália, na Ilha de Lampedusa, no sábado (28), com mulheres e crianças sentadas com as pernas para fora.
A imagem do desespero no resgate na ilha, a mais ao sul do país, dá a dimensão do caos em que foi transformado o Mar Mediterrâneo, o “maior cemitério da Europa”, particularmente após a destruição do Estado nacional da Líbia pelos bombardeios da Otan, iniciados em março de 2011, sob comando de Obama.
“Foi um dos maiores desembarques dos últimos tempos”, descreveu o prefeito de Lampedusa, Salvatore Martello, ressaltando que, “mais uma vez, a ilha se prepara para suportar sozinha o fardo da recepção humanitária” de pessoas desesperadas, que buscam com o asilo uma nova vida.
No mesmo sábado chegaram outras 30 pessoas a bordo de duas pequenas embarcações. Na sexta-feira (27), um barco com 100 pessoas e outro com 25 também foram localizados e acompanhados até o porto.
“Sou o primeiro a dizer que devemos apoiar, em todos os níveis, o compromisso da comunidade internacional com o drama que se vive no Afeganistão, mas é justo lembrar que existem outros territórios e países nos quais os direitos humanos são negados no dia a dia e direitos fundamentais como saúde, educação e alimentação”, destacou o prefeito.
Segundo a médica Alida Srrachieri, da ONG humanitária Médicos Sem Fronteiras, vários parecem ter sido agredidos fisicamente na Líbia.
Daí a importância do acolhimento e abrigo de seres humanos em precárias condições de vida em várias regiões da África. Vale lembrar que a Líbia, antes um dos mais prósperos e empregadores dos países africanos durante o governo de Muamar Kadafi, tornou-se território sem lei e epicentro do tráfico humano, superexploração e escravização de migrantes.
CENTRO DE RECEPÇÃO SUPERLOTADO
O único centro de recepção com que conta Lampedusa está novamente transbordado. Com capacidade de apenas 300 pessoas, já tinha alojadas mais de 1.500. Somente na terça-feira (24) haviam chegado mais de 500 náufragos em mais de duas dezenas de barcos. Ainda que a transferência dos migrantes tenha ocorrido para outros centros da Sicília ou da península, vem sendo demasiado lento e em ocasiões como essa em que se avolumam chegadas, o primeiro centro de acolhida – Lampedusa – acaba se congestionando completamente.
Mas, infelizmente, a situação é ainda mais precária, pois muitos outros migrantes encontram-se acampados à beira de estradas empoeiradas e correndo o risco de serem deportados de volta ao país de origem por não preencherem os pré-requisitos legais exigidos pelas autoridades italianas.
Diante do que qualificou de “improvisação”, o prefeito protestou novamente frente ao executivo nacional. Salvatore Martello condenou a “falta de uma linha de atuação” com que vem atuando o governo central, o que tem prejudicado por um lado a acolhida de imigrantes e por outro impactado negativamente a recepção de turistas, motor econômico da região.
Conforme a Organização Internacional para as Migrações (OIM), na rota do Mediterrâneo Central, que vai da Líbia à Itália, 392 pessoas morreram afogadas desde o início do ano e 632 estão desaparecidas, totalizando 1.024.