UNRWA foi criada pela Assembleia Geral da ONU em 1949, em resposta à Nakba, a limpeza étnica na Palestina: Knesset (parlamento israelense) em marcha batida para oficializar Israel como Estado pária, de apartheid e genocida
O parlamento israelense (Knesset) aprovou na segunda-feira (28) um infame projeto de lei para proibir a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), criada em 1949 pela Assembleia Geral da ONU para assistir aos refugiados que resultaram da implantação do Estado de Israel,
Com a lei, a UNRWA fica proibida de operar em território israelense e áreas sob ocupação de Israel, ou seja perde a função para a qual foi criada, em meio a fome e sede imposta por Netanyahu no cerco a Gaza.
Em suma, para acelerar o genocídio pela fome e falta de atendimento médico, depois de matar ou ferir mais de 140 mil palestinos, em marcha batida para oficializar perante o mundo sua condição de Estado pária, capaz de tudo para manter intacto seu sistema de apartheid e opressão colonial.
A lei foi aprovada por 92 a 10. Um segundo projeto de lei cortando laços diplomáticos com a UNRWA também foi votado na segunda-feira. As duas leis entram em vigor em 90 dias.
A UNRWA é a linha de vida primordial para as vítimas da limpeza étnica cometida por Israel desde 1948 e responsável por minorar o sofrimento dos mais de dois milhões de palestinos tangidos pela segunda vez para fora de seus lares pelas bombas israelenses, agora desde outubro do ano passado.
Em um ano de guerra de extermínio de Israel em Gaza, 233 funcionários da ONU, na maioria pessoal da UNRWA, foram assassinados pelas tropas coloniais israelenses. O mais recente deles na última quinta-feira.
Além dos territórios palestinos ocupados, a UMRWA atua na Jordânia, Síria e Líbano, onde grande parte dos palestinos se refugiaram desde 1948.
Nour Odeh, da Al Jazeera, relatando de Amã, na Jordânia, disse que isso “privaria cerca de 3 milhões de palestinos na Cisjordânia ocupada e em Gaza de qualquer serviço prestado pela UNRWA”. É uma operação gigantesca no território palestino e emprega 13.000 pessoas apenas em Gaza, acrescentou.
A Presidência palestina condenou o banimento da UNRWA. “Rejeitamos e condenamos a legislação … Não permitiremos isso… A votação esmagadora do chamado Knesset [parlamento de Israel] mostra a transformação de Israel em um Estado fascista“, disse Nabil Abu Rudeineh, porta-voz da presidência em Ramallah, em um comunicado.
O chefe da UNRWA, Philiphe Lazzarini, disse que a proibição estabeleceu “um precedente perigoso” e “só aprofundaria o sofrimento dos palestinos”.
“Este é o ato mais recente na campanha em andamento para desacreditar e deslegitimar a UNRWA … Esses projetos de lei só vão aprofundar o sofrimento dos palestinos”, afirmou.
Ele denunciou, ainda, que a proibição se opõe à Carta da ONU e viola as obrigações de Israel sob o direito internacional,
Mais cedo, um porta-voz da UNRWA classificou a lei como “ultrajante”.
“É ultrajante que um Estado-membro das Nações Unidas esteja trabalhando para desmantelar uma agência da ONU que também é a maior responsável pela operação humanitária em Gaza”, disse Juliette Touma à agência de notícias AFP.
O assessor de mídia da UNRWA, Adnan Abu Hasna, falando à Al Jazeera, descreveu a decisão como uma escalada “sem precedentes”.
Ele afirmou que o projeto de lei, que ele descreveu como “punição coletiva”, “privará mais de 650.000 meninas e meninos da educação, colocando em risco toda uma geração de crianças”.
No início deste mês, Lazzarini havia advertido que as operações da UNRWA na Faixa de Gaza estavam se aproximando de um “ponto de ruptura” devido às condições cada vez mais desafiadoras e que, à medida que o inverno se aproxima, o risco de fome ou desnutrição aguda se agrava.
Para o apologista do genocídio e presidente do Comitê de Relações Exteriores e Defesa do parlamento israelense, Yuli Edelstein, a aprovação foi “histórica” e equivalia à “eliminação de um dos braços do terror que agia sob os auspícios da ONU”.
Todos os membros árabes do Knesset, bem como o Partido Democrata da oposição, votaram contra. O deputado Ahmad Tibi, da coalizão Hadash-Ta’al, apontou que cerca de 90.000 trabalhadores da UNRWA prestam serviços aos refugiados palestinos e que ela deveria ser fechada apenas quando um Estado palestino independente for formado.
“PERDA DO SENSO DE HUMANIDADE”
Em Madrid, o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, observou que “o que está acontecendo no Oriente Médio indica que perdemos nosso senso de humanidade”.
“Não sei quantas resoluções da ONU Israel sistematicamente deixou de cumprir”, enfatizou Borrell. “Quando dizemos que exigimos um cessar-fogo, essa demanda implica nossas capacidades coercitivas. Enquanto a guerra continuar em Gaza e no Líbano, viveremos à beira de uma faísca que pode desencadear um conflito ainda maior”, ele concluiu.
No domingo, Reino Unido, Canadá, Austrália, França, Alemanha, Japão e República da Coreia se pronunciaram contra a lei de proibição da UNRWA, que interromperia significativamente a ajuda humanitária à Faixa de Gaza e à Cisjordânia.
“Instamos o governo israelense a cumprir suas obrigações internacionais, manter os privilégios e imunidades de reserva da UNRWA intocados”, disseram eles, enfatizando a necessidade do regime de Netanyahu facilitar “a prestação dos serviços básicos extremamente necessários à população civil”.
O banimento da UNRWA se segue a recente anúncio de Washington dando a Israel “30 dias” para permitir que a ajuda humanitária voltasse a entrar em Gaza. Agora, porta-voz do Departamento de Estado se declarou “profundamente preocupado” com a proibição das operações da UNRWA, por desempenhar um “papel insubstituível” na entrega de ajuda em Gaza.