Após receber mensagens com ameaças de morte à jornalista Miriam Leitão, o Conselho que organiza a 13ª Feira do Livro de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, anunciou que era obrigado a cancelar o convite para que ela participasse do acontecimento, entre 8 e 18 de agosto.
A mesa-redonda de que Miriam faria parte, “Biblioteca Afetiva”, seria no dia 15 de agosto. Na mesma mesa, falaria o sociólogo Sérgio Abranches, marido de Miriam, que também teve seu convite cancelado.
O cancelamento foi “por não poder garantir a segurança de Miriam”, esclareceu o coordenador artístico da Feira do Livro, Carlos Henrique Schroeder.
“Começamos a receber mensagens, e mensagens pesadas, que não dá nem para repetir”, declarou Schroeder. “Me senti envergonhado de ter que anunciar esse cancelamento mas, diante do conteúdo das ameaças, a prudência falou mais alto. Relutei, tive vontade de bancar a vinda deles, mas melhor assim do que ter um evento marcado por sangue. Estamos estudando uma substituição na programação e pensamos em fazer uma mesa para debater o ódio em tempos de internet. Só não deixei a coordenação do evento porque se não houver feira é uma vitória para eles”.
Pelas redes sociais, bolsonaristas também ameaçaram Miriam e Abranches de morte – e prometeram recebê-los com uma chuva de ovos.
“Logo após o anúncio da vinda da Miriam, nas redes sociais, começaram a surgir uma centena de comentários negativos avacalhando e xingando a Miriam, e nós começamos a receber ameaças e ligações ameaçando jogar ovos. A coisa ficou tensa, começaram a fazer uma petição online com mais de três mil assinaturas e, com o tom das ameaças, que começamos a receber, ficamos assustados. O cancelamento foi, sobretudo, para evitar que ocorresse em Jaraguá do Sul algo que seria impensável, como algum tipo de agressão”, afirmou Schroeder.
“Nunca, em toda sua história, a festa da literatura foi atacada pela escolha de seus convidados”, diz a nota do Conselho que organiza a Feira do Livro de Jaraguá do Sul.
O que motivou a agressão a Miriam Leitão, colunista de “O Globo” e comentarista da Rede Globo, foi sua desaprovação à medidas do governo Bolsonaro. Por exemplo: “Eduardo Bolsonaro não tem as mínimas qualificações para o cargo de embaixador. Indicação joga o Brasil de volta ao tempo da fidalguia“.
Apesar de ser apenas uma questão de bom senso, é exatamente isso o que falta a Bolsonaro & cia. Entre outras coisas.
Abaixo, a íntegra da nota da organização da Feira do Livro:
“A feira do livro, em suas 12 edições, sempre foi marcada por ser um evento plural, que promove o conhecimento por meio da literatura, teatro, música e artes visuais.
“Nesses 12 anos, a feira já enfrentou inúmeras dificuldades, da escassez de recursos financeiros até enchentes. Mas nunca, em toda sua história, a festa da literatura foi atacada pela escolha de seus convidados.
“Em virtude das recentes manifestações, a comissão organizadora, em votação na manhã desta terça-feira (16), optou (em decisão dividida) pelo cancelamento da participação dos jornalistas Miriam Leitão e Sérgio Abranches.
“Reiterando, a Feira do Livro é, e sempre foi, um evento de difusão do livro e da leitura, sem fins políticos, religiosos ou ideológicos”.